Determinantes Sociais da Saúde (DSS): uma robusta teoria e um movimento social que cresce, mas que clama por ações

Primeiramente, enquanto humanidade, cientistas e militantes nos incomodamos com as injustiças sociais e fizemos denúncias e criticamos a insuficiência das teorias para explicar porque adoecemos. Ramon Carrillo, ministro da saúde do governo Perón, na Argentina, entre 1946 e 1954 nos ofereceu uma bela demonstração desta crítica: frente às doenças que geram a miséria, frente à tristeza, à angustia e o infortúnio social dos povos, os micróbios, como causas das doenças, são umas pobres causas.

Passamos por alguns períodos de acomodação em que predominam explicações mais biológicas em que o social é apenas atributo, mas nunca esta tensão com alternativas explicativas mais críticas cessa de acontecer.

O movimento mundial pelo enfrentamento dos DSS é um resgate desta vertente mais crítica (mas também não cessa de acontecer tensões com alternativas mais biomédicas) que traz ao debate evidências sólidas apoiadas por cientistas consagrados.

Entretanto, muitos ainda dizem que “tudo isto é teoria com pouca ação prática” e que há que se “aterrissar” em territórios reais este “boeing ou airbus” carregados de boa bagagem teórica.

A Organização Mundial de Saúde não tem feito “ouvido de mercador” a estas críticas e tenta dar sua contribuição, e acaba de lançar uma nova publicação intitulada “Abordagem dos DSS para a Saúde Pública: do conceito à prática“, que leva a discussão sobre as desigualdades evitáveis e injustas na área da saúde a um nível prático.

Esta publicação segue a idéia de um outro livro da OMS lançado no final de 2010, “Equidade, determinantes sociais e programas de saúde pública”, baseado no trabalho do grupo “Condições prioritárias em saúde pública”, uma das nove “Redes de Conhecimento” da Comissão Global de Determinantes de Saúde (CDSS), que explorou possíveis pontos de entrada para abordar as desigualdades de saúde nos níveis de contexto socioeconômico de exposição, vulnerabilidade, resultado de saúde e consequências sociais (ver no Portal cmdss2011.org matéria completa sobre este livro http://cmdss2011.org/site/2011/08/livro-da-oms-apresenta-caminhos-para-a-programacao-em-saude-publica-centrada-em-equidade-e-determinantes-sociais/).

Os estudos de caso apresentados no volume vão desde a prevenção da desnutrição entre as meninas no Paquistão e prevenção do suicídio no Canadá; controle da malária na Tanzânia e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, em Vanuatu.

O livro não oferece “caminhos mágicos” ou alternativas únicas para enfrentar com êxito só problemas, mas sim, analisa abordagens programáticas que levaram ao sucesso ou ao fracasso.

O último capítulo sintetiza essas experiências e tira as lições aprendidas nestes caminhos múltiplos e combinados.

Estas lições incluem a necessidade de compreensão da equidade como um valor fundamental na programação em saúde pública e a necessidade de não somente trabalhar entre todos os setores, mas também entre as condições de saúde. Isso requer uma combinação de liderança, visão técnica e política, uma apreciação de que sustentabilidade a longo prazo depende da integração e institucionalização, e que não existem soluções rápidas para os desafios da saúde pública. Uma lição aprendida comum de todos os casos analisados é a de não esperar para identificar o que deu certo ou errado, até depois que o programa tenha decorrido ou não. A pesquisa é um componente necessário de qualquer implementação, uma rotina a ser explorada para avaliar e ajustar estratégias e abordagens em tempo hábil.

O livro é uma iniciativa conjunta do Departamento da OMS de Ética, Comércio Equidade e Direitos Humanos (ETH), Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR), Programa Especial de Investigação, Desenvolvimento e Formação em Investigação sobre Reprodução Humana (HRP ), Aliança para a Política de Saúde e Pesquisas de Sistemas (AHPSR). Os 13 estudos de caso foram encomendados pela Rede de Conhecimento sobre Condições Prioritárias de Saúde Pública (PPHC-KN), um grupo de trabalho interdepartamental baseado na OMS que esteve associado à Comissão da OMS sobre Determinantes Sociais da Saúde.

Façam bom uso, pois somente usando este material nos territórios é que realmente poderemos dizer que algo prático e útil foi produzido para reverberar esta robusta teoria sobre DSS e seu movimento dela derivado.

Referências Bibliográficas

Akerman M. Livro da OMS apresenta caminhos para a programação em saúde pública centrada em equidade e determinantes sociais [Internet]. Rio de Janeiro: Portal DSS Brasil; 2011.

Blas E, Kurup AS, editors. Equity, social determinants and public health programmes. Geneva: World Health Organization; 2010.

Blas E, Sommerfeld J, Kurup AS, editors. Social determinants approaches to public health: from concept to practice. Geneva: World Health Organization; 2011.

Ordóñez MA. Ramón Carrillo, el Gran Sanitarista Argentino. Electroneurobiologia [periódico na internet]. 2004 [acesso em 20 set 2011]; 12(2):144-147. Disponível em: http://electroneubio.secyt.gov.ar/DrRamonCarrillo.htm

Entrevista com:

1 Comentário

  1. Um dos mais sérios problemas é o atendimento, acolhimento e a humanizaçao. As informações também, porque os recursos são mal gerenciados e o povo não tem conhecimento de nada.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*