Diferenciais do Tabagismo no Brasil

Indicador do Observatório sobre este tema:
ind010402, infográfico

São preocupantes as perspectivas de morte por tabagismo. Estima-se que quase 6 milhões de pessoas morram a cada ano devido ao tabagismo ou ao tabagismo passivo. A maioria das doenças não-transmissíveis está fortemente associada ao uso do tabaco. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa evitável de óbitos nas Américas, e estima-se que cerca de 625.000 pessoas morram por ano devido ao hábito de fumar (430.000 nos EUA, 150.000 na América Latina e na Região do Caribe, e 45.000 no Canadá).

Para 2030 a projeção ainda é pior, são esperadas 8 milhões de mortes em decorrência do tabagismo em todo o mundo, sendo que 80% dessas mortes ocorrerão em países em desenvolvimento, segundo a OMS. Isso fará com que o tabagismo seja considerado a principal causa de morte precoce nesses países. O Brasil está no estágio intermediário da epidemia do tabagismo e segue a tendência de outros países em desenvolvimento, onde o declínio é maior entre os homens. Dados da OMS revelam que o Brasil vem passando por uma importante queda no tabagismo nas últimas décadas. Entre 1989 e 2003 esta queda foi estimada entre 33,1 e 43,3% nos homens e 27%, nas mulheres. Essa redução ainda não é ideal, mas é resultado de ações de prevenção e controle do tabagismo, em função de medidas educativas, preventivas e regulatórias.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer – INCA (2007), o tabagismo representa um problema de saúde pública no Brasil, pois está relacionado com 50 doenças incapacitantes diferentes, e é responsável por uma importante parcela dos gastos (7,7%) de todas as internações do Sistema Único de Saúde (SUS) para enfermidades relacionadas ao aparelho respiratório, neoplasias e doenças do aparelho circulatório em indivíduos acima de 35 anos de idade.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar 2008 (PNAD/IBGE), o professor Aluísio Barros e colaboradores descreveram a prevalência do tabagismo diário segundo sexo, idade, renda domiciliar e ocupação de moradores de 15 anos ou mais, no Brasil e regiões. Os autores encontraram uma prevalência de tabagismo diário de 15,1%, que variou de 17,4% na Região Sul a 12,8% na Região Norte. Entre os homens a prevalência foi de 18,8% e entre as mulheres de 11,6%. Apesar da maior redução ter ocorrido entre os homens, a prevalência de tabagismo nos homens foi 62% maior do que nas mulheres em todos os grupos etários. Os autores relatam que, quando analisada por grupos etários, a proporção de fumantes aumenta com a idade até os 59 anos e cai abruptamente entre os idosos (60 anos ou mais), e que a maior diferença ocorre dos 40 aos 49 anos de idade.

A tendência de maior redução entre homens foi confirmada entre 2006 e 2009 pela professora Gulnar Azevedo e Silva do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com base na análise dos dados do VIGITEL. Essa tendência ocorreu tanto para as capitais agregadas em todo o país quanto para os dados desagregados por regiões. Entre os homens, a redução mais significativa ocorreu na Região Norte (de 21,1% para 17,6%). Fato que se repetiu com mais expressão entre as mulheres da mesma região (26%), onde o percentual reduziu de 11,7%, em 2006, para 8,7%, em 2009. Quanto à escolaridade, em 2006 houve uma maior concentração de fumantes entre indivíduos de menor escolaridade, bem como a prevalência de fumantes com consumo intenso de cigarros foi evidenciada entre aqueles com menos anos de estudo nos dois sexos, com exceção de homens da Região Sul . Ressalta-se ainda a variação da prevalência de tabagismo em função de cada ano de escolaridade, com uma diminuição à medida que os anos de estudo aumentam, para ambos os sexos. Interessantemente, parece haver uma tendência a aumentar no ponto em que corresponde a quatro/cinco anos de estudo, o que corresponderia a ter realizado o Ensino Fundamental, tornando a cair novamente em seguida, relatam os autores.

Os dados do VIGITEL mostram que a maior prevalência se situa na faixa etária mais jovem (18 a 29 anos). Já entre as mulheres houve uma tendência à estabilidade entre os grupos etários, exceto na Região Norte e entre as mais idosas das Regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, onde houve um decréscimo. As maiores prevalências foram encontradas na faixa etária intermediária (de 30 a 59 anos) e no grupo mais jovem da Região Sul. Os autores também forneceram informações interessantes sobre a cessação de fumar segundo sexo. O percentual foi levemente positivo entre os homens (+3%), mas, entre mulheres, no entanto, foi negativo (-5,5%) para o somatório das capitais. O maior aumento foi verificado entre homens da Região Norte (+11,7%). Ao contrário da tendência total para as mulheres, onde na Região Norte houve aumento significativo da cessação do tabagismo (+6,3 %).

A renda familiar também interferiu no consumo diário de cigarros, quanto maior a renda domiciliar menor o consumo (18,6% de tabagismo entre os 20% mais pobres e 11,5% entre os 20% mais ricos), segundo os dados da PNAD. Para Barros e colaboradores, no Brasil e em todas as regiões, a proporção de fumantes segue tendência de redução com o aumento da renda. A Região Sul teve a maior média de consumo de cigarro no Brasil, em ambos os sexos. E apesar do aumento da renda, essas diferenças persistiram.

Entre os trabalhadores avaliados pela PNAD, 16,5% são fumantes, enquanto que nos não trabalhadores estima-se que 12,9% sejam fumantes. Essa diferença persistiu segundo as categorias ocupacionais. Militares, profissionais das ciências e das artes e os administradores foram os que apresentaram as menores prevalências de tabagismo. Em contrapartida, trabalhadores manuais de produção de bens, manutenção e reparos e os de atividade agrícola tiveram prevalências de tabagismo acima de 20%. Isso representa um panorama que se repete em outros países, onde a prevalência de tabagismo é maior entre os trabalhadores que ocupavam cargos com exigência de menor nível de escolaridade e maior esforço físico.

A proibição da propaganda, a obrigatoriedade das imagens de advertência nas carteiras de cigarro e restrições ao fumo em ambientes fechados de uso coletivo são ações políticas que fazem parte do Programa Nacional de Controle do Tabagismo no Brasil. Contudo, para Aluísio Barros e colaboradores, apesar dos avanços, vários desafios ainda persistem, tais como limitar o acesso ao consumo, aumentar os preços dos produtos do tabaco, melhorar a fiscalização das políticas e redução das desigualdades de efetividade das ações entre subgrupos populacionais com diferentes níveis socioeconômicos. Além disso, para Gulnar Azevedo e Silva e colaboradores, os resultados indicam a necessidade da priorização de estratégias de controle do tabagismo que alcancem jovens e mulheres de baixa escolaridade.

Sem sombra de dúvidas, a análise desses dados e de estudos de abrangência nacional subsidiam a formulação de políticas públicas com a finalidade de redução das desigualdades regionais e das diferenças entre os estratos de renda, que ainda são um desafio às políticas de controle do tabagismo.

Referências Bibliográficas

Barros AJ, Cascaes AM, Wehrmeister FC, Martínez-Mesa J, Menezes AM. Tabagismo no Brasil: desigualdades regionais e prevalência segundo características ocupacionais. Ciên Saúde Colet [periódico na internet]. 2011 [acesso em 21 mar 2012]; 16(9):3707-16. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1413-81232011001000008&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Instituto Nacional do Câncer – INCA. Tabagismo no Brasil: um grave problema de saúde pública. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer; 2007.

Silva GA, Valente JG, Malta DC. Tendências do tabagismo na população adulta das capitais Brasileiras: uma análise dos dados de inquéritos telefônicos de 2006 a 2009. Rev. bras. Epidemiol [periódico na internet]. 2011 [acesso em 21 mar 2012]; Supl 1;14:103-114. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1415-790X2011000500011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt  

 

 

Entrevista com:

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  1. PERCEPÇÃO DO TABAGISMO NO SEGMENTO UNIVERSITÁRIO

    Roosevelt S. Fernandes (NEPA- UNIVIX – Coordenação) Valdir Jose de Souza (NEPA – UNIVIX – Pesquisador) Alex Rocha Bernardes da Silva (UFES) Cinthia Santos (SENAI) Cintia Marinho de Carvalho (FAFIA) Clarissa Massariol Oliveira (UNIVIX) Flávia Marini Paro (FESV) Ilza Girardi (UFRGS) Marta Corrêa Fontes Chagas de Oliveira (UnB) Núbia Kátia Teixeira (ESCS) Renata Geniany Costa (UFJF) Sabrina Trindade Fernandes (EMESCAM) Fernanda Moura Vargas Dias (CUSC)

    RESUMO

    A pesquisa envolveu 1728 estudantes universitários (33 diferentes cursos) de 12 instituições de ensino superior (ES, RS, DF, MG, SP), tendo como objetivo analisar o nível de percepção do segmento universitário frente a problemática do Tabagismo. A pesquisa, em se tratando especificamente do segmento universitário da tentativa de abrangência nacional, pode ser considerada como base para outras pesquisas complementares. O instrumento da pesquisa foi estruturado pelo Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA – UNIVIX, e aplicado pelos autores em estudantes de suas instituições de ensino, sendo os dados coletados tabulados (SPSS) pelo NEPA. É intenção dos autores, em relação aos resultados agora apresentados em caráter preliminar, incluir instituições de ensino de outros Estados – ainda não inseridos na presente amostra – de modo a poder assegurar uma visão nacional em relação a temática.

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