Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis amplia consciência coletiva e participação social

Sairé, Barra de Guabiraba, Bonito, Camocim de São Felix e São Joaquim do Monte foram as primeiras cidades a integrar a Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis (RPMS), idealizada pelo Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social da Universidade Federal de Pernambuco (Nusp/UFPE), em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e com o Governo de Pernambuco. A RPMS começou como um projeto que, entre os anos de 2003 e 2008, buscou compreender os potenciais destas localidades e construir, junto à população, alternativas para melhorar a qualidade de vida e ampliar a consciência coletiva através da intersetorialidade e participação social. Depois desse período, a RPMS cresceu e, atualmente, é composta por 23 municípios da Região Metropolitana, Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco e funciona a partir da interação entre a Universidade, o Governo do Estado e os promotores de Municípios Saudáveis.

“A ideia de construir estes mecanismos é antiga, mas sempre acontecia de forma solta, mais focada na saúde propriamente dita. Mas a discussão de promoção da saúde foi se ampliando e abrangendo a questão da saúde em todas as políticas, que são os determinantes, as causas das causas”, explica Ronice Sá, coordenadora do Nusp, expandindo a compreensão de saúde não apenas enquanto setor, mas levando ao campo, à realidade. O Governo Japonês já havia realizado experiências neste sentido, trabalhando estilos de vida e a reflexão de mudança de mentalidade dentro das comunidades no Japão. “É o que chamamos de nível micro e agregamos isso com a visão que já se tinha aqui em Pernambuco, que trabalhava a questão do desenvolvimento local integrado e sustentável. Foi daí que construímos um modelo que transitava por essas duas visões, agregando as duas”, definiu Ronice.

A Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis trabalha a partir da avaliação de capital social, buscando identificar dentro de cada comunidade as peculiaridades e os talentos em potencial que se destacam entre a população. Os municípios são sugeridos pelo Governo do Estado. Já o Nusp atua identificando as demandas de cada localidade e habilita os moradores para que eles possam atuar como Promotores de Municípios Saudáveis. “Trabalhamos com a lógica de desenvolvimento das potencialidades de cada um, sem negar a existência dos problemas. As complexidades de cada localidade são respeitadas e determinam o andamento do trabalho”, explica Ronice.

Em Bonito, por exemplo, os jovens eram o grupo que tinha maior capital social e se destacavam através dos grêmios e de grupos jovens das igrejas. Em Sairé, grupos de idosos participavam de projetos e mobilizavam a cidade. Já em São Joaquim do Monte eram as mulheres artesãs. “Em Camocim de São Felix houve um pedido do epidemiologista do grupo, Djalma Agripino, para trabalharmos a questão de mãe e filho, devido à identificação da existência de trabalho infantil no município. Sempre trabalhávamos as potencialidades, mas nesta cidade atuamos junto ao déficit”, ilustra a coordenadora do projeto, demonstrando a flexibilidade da iniciativa.

Sob a perspectiva da intersetorialidade, a atuação da RPMS pode tomar rumos próprios e influenciar desde a realidade econômica das famílias até a saúde mental e a auto-estima da população. “Em Barra de Guabiraba, muitas mulheres tomavam remédios que elas mesmas chamam de tarja preta. Hoje, trabalhando com artesanato, nenhuma usa mais medicação controlada. Nem sempre atuamos com esse intuito específico. As coisas vão acontecendo”, aponta Ronice.

Segundo a coordenadora do Nusp, é difícil determinar ou listar resultados que, especificamente, atestem o sucesso do projeto. “Desenvolvemos ações que se misturam com outras ações. Abandonamos a perspectiva de causa e efeito, de que algo está acontecendo por estamos atuando no município. Não trabalhamos com essa lógica. Há uma escola em Bonito, por exemplo, que foi criada a partir de um projeto com toda lógica do Método Bambu – desenvolvido e utilizado na RPMS. Ele nasceu de uma oficina que promovemos e eles ganharam um prêmio por ser uma iniciativa local. Sequer estávamos sabendo da premiação. Obtivemos esse retorno bem depois”, detalhou Ronice.

O Método Bambu, utilizado na Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis, é simples e procura encontrar ações que devem ser desenvolvidas em conjunto. “Ele mexe um pouco com a questão do que é o bem viver, da compreensão do outro, do que é felicidade, quais são os potenciais que as pessoas trazem consigo. O método puxa esses entendimentos e prioriza ações de uma forma simples e que não gera conflitos porque sai como uma ação que, claramente, vai beneficiar a todos”, explica Ronice Sá.

Após cinco anos de empenho e sucesso, o projeto foi ampliado e a Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis se concretizou como uma iniciativa local, sem a participação japonesa. O Nusp/UFPE e o Governo do Estado de Pernambuco, por meio da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), assumiram o compromisso de expandir a RPMS, que agregou 18 novos municípios, levando o número de participantes a 23 localidades. Atualmente a RPMS é composta pelos municípios de Agrestina, Águas Belas, Alagoinha, Altinho, Barra de Guabiraba, Bonito, Camocim de São Félix, Chã Grande, Cumaru, Garanhuns, Goiana, Jurema, Limoeiro, Maraial, Olinda, Palmares, Pesqueira, Pombos, Sairé, Salgueiro, São Joaquim do Monte, São Vicente Férrer e Timbaúba.

Enquanto o governo se responsabiliza pela difusão da iniciativa, organizando encontros anuais e cursos sob demanda, a UFPE, através do Nusp, atua como formadora, realizando avaliações, monitorando as ações e ministrando o Curso de Promotores de Municípios Saudáveis. Durante a formação, a população é capacitada para participar do processo de transformação que cada cidade demanda. Os promotores formados pela Universidade têm liberdade e habilidade para perceber as necessidades de cada localidade e propor ações que atendam às demandas especificas de seus municípios. As ações acompanham as peculiaridades de cada comunidade.

Horta, caminhadas ecológicas, limpeza de rios, trabalho com artesanato, atividades esportivas e rádio comunitária são algumas das experiências vivenciadas dentro da Rede e que já começam a render frutos. “Estamos fechando uma cooperativa de mulheres artesãs em São Joaquim do Monte, que está sendo apoiada pela UFP

E com alunos de extensão de diversos cursos. Agora elas conseguem trabalhar com seus recursos, com renda própria”, comemora Ronice, explicando que a cooperativa é um desdobrando de ações anteriores, como cursos de gestão de negócios.

O sucesso do projeto e do Método Bambu foram atestados não apenas pela ampliação da proposta para os 23 municípios de Pernambuco, mas pela boa avaliação internacional do Curso de Promotores de Municípios Saudáveis que, desde 2009, é levado para países de língua portuguesa da África e para a América Latina. A iniciativa criou a Rede Africana de Municípios Saudáveis e uma comunidade latino-americana de práticas de Municípios Saudáveis.

Por outro lado, o projeto encontrou alguns desafios no início, como a dificuldade de sintonizar a complexidade exigida pelos municípios com a necessidade de atestar resultados das gestões políticas. “Houve uma época em que nenhuma associação e cooperativa dos municípios era legítima e isso é superimportante na questão dos determinantes. Antes do projeto, todas as associações eram criadas por políticos para conseguir recursos”, comenta Ronice. Outro desafio que acompanha a Rede está no perfil dos promotores, pois muitos já atuam como conselheiros de saúde ou tutelares, ou seja, são pessoas que já participam da dinâmica coletiva dentro de seus municípios. “Agregar novos representantes voluntários da população é uma tarefa difícil. Trazer pessoas que começaram a se interessar, a ver seu papel e importância quando começam a se importar com o seu entorno, com sua vida e com a vida do outro é bem gratificante, mas não é fácil”, destaca.

Para a pesquisadora do Nusp, Rosane Salles, que participa da iniciativa desde o início, outra dificuldade é a continuidade no envolvimento dos atores que participam das ações da rede. “As pessoas de repente se desarticulam, o que gera uma dificuldade na continuidade das ações”, explica. Mesmo assim, a avaliação do projeto é positiva segundo Rosane. “Nossa perspectiva é que os municípios que já tem essa capacidade, já conhecem as informações para trabalhar nos Municípios Saudáveis e com a promoção da saúde continuem atuando. Estaremos aqui sempre para dar o suporte necessário”, conclui.

Entrevista com:

7 Comentário

  1. bom dia
    para todos os professores e a professora Ronice Sá

    foi uma das bolseiras por angola, no curso sobre municipios saudaveis.
    gostaria de contacta-los para obter mas informaçoes sobre este programa .
    vou trabalhar numa area ligada ao empreendedorismo comunitario, agora acredito vou por em pratica tudo que pode aprender no decorrer da formaçao.

    aguardo a sua resposta
    um grande abraço para toda equipa cheio de muitas saudades
    bjoos

    • Cara Domingas, obrigada pelo seu comentário. Faremos contato com você via e-mail.
      Equipe do Portal DSS-NE

  2. gostaria de saber se os cursos continuam
    no caso que a minha instituiçao queira, fazer um protocolo de cooperaçao para troca de experiencias o seria necessário

  3. bom dia Dra Ronice

    desejo feliz ano novo para si e sua familia

    Dra estou agora a funcionar num gabinete de desenvolvimento comunitario onde estou a frente do departamento de accao social, gostaria de poder contar com o vosso apoio no seguinte
    traca de experiencias nas areas
    na elaboracao de programas para o desenvolvimento do sentimento da participaçao e educacao comunitaria e promoçao dos direitos humanos e promoçao da cultura da paz e civica
    a minha proposta seria ir ao brasil para uma visita e troca de experiencia na primeira fase
    e na segunda fase seria a vossa vinda ca em angola para formaçao e nao so
    aguardo pela vossa resposta e dizer que é um pouco urgente
    como sabe o nosso país esta numa fase de trabalhar na sensibilizaçao e mobilizacao das comunidades localmente devido ao exodo das zonas rurais para os centros urbanos
    isbael

    • Cara Isabel, encaminharemos o contato da profra. Ronice por e-mail. Obrigada por prestigiar nosso portal.

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