Um breve panorama da tuberculose no Brasil: enfrentando o estigma para vencer a doença

A Tuberculose matou 1,45 milhão de indivíduos em todo o mundo no ano de 2010. O Brasil enfrenta um grande desafio: precisa combater a doença e o estigma sobre ela, para que seja possível reduzir os números de pessoas doentes e de mortes. O país integra o grupo de 22 nações que concentram 82% dos casos de tuberculose no planeta. Segundo o Ministério da Saúde, em 2001, a taxa de mortalidade pela tuberculose no país era de 3,1 óbitos por cada grupo de 100 mil habitantes, já em 2011 foi reduzida para 2,4/100 mil, o que representa uma diminuição de 22,6% dos casos. Contudo, o número de óbitos permanece alto.

Em 2010 ocorreram aproximadamente 4.600 mortes de pacientes com tuberculose no país. Fatores complicantes como a falta de esclarecimento, o preconceito de terceiros e dos próprios pacientes, fazem com que estes deixem de procurar assistência ou interrompam tratamentos já iniciados. Por conta deste comportamento, embora as medidas para tratar a doença sejam relativamente simples, o indicador de cura da tuberculose no Brasil ainda desafia as autoridades. Dados do Ministério da Saúde revelam que nove em cada 100 pacientes abandonam os cuidados antes do período recomendado, quase o dobro da média tolerável pela Organização Mundial da Saúde, que é de cinco para cada 100.

O paciente com tuberculose deixa de transmitir a doença 15 dias após iniciar a terapia com medicamentos específicos. Vale ressaltar que a doença não é transmitida por meio de pratos, talheres e vestimentas, e que o diagnóstico precoce torna desnecessária a internação. Atualmente a Organização Mundial da Saúde recomenda que sejam realizados o exame de cultura e o teste de sensibilidade em todos os pacientes que apresentem retratamento da doença. Tal medida é para que seja possível diagnosticar de forma precoce os casos resistentes, que são notificações que merecem muita atenção.

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) vem priorizando a atenção à população em situação de rua, às populações carcerária e indígena e às pessoas que vivem com HIV/aids nas quais a coinfecção pela tuberculose é muito comum. O Ministério da Saúde informou que no ano de 2011 a incidência da doença foi de 1.037,7 por 100 mil pessoas no âmbito da população carcerária, e, na população indígena, de 95,5 por cada 100 mil habitantes. A oferta universal dos testes anti-HIV aos pacientes com tuberculose vem sendo utilizada pelo Ministério da Saúde como estratégia para a redução do número de mortes resultantes da coinfecção.

Sobre os casos de tuberculose especificamente na região de Porto Alegre, um estudo desenvolvido no município analisou a distribuição de casos de tuberculose pulmonar bacilífera de residentes naquela cidade entre os anos de 2000 e 2005, do qual foram excluídos: pessoas em situação de rua, institucionalizados e aqueles que não continham informação de endereço ou pertenciam a áreas não cadastradas. As taxas de incidência de tuberculose bacilífera variaram de 11,69 casos/100.00 habitantes para os bairros com melhor situação socioeconômica a 92,95/100.000 para os em pior situação. O risco relativo dos bairros com os piores indicadores socioeconômicos chegou a oito vezes o dos bairros com os melhores indicadores. A pesquisa evidenciou em números a interferência das condições de vida e acesso como agravante para a doença.

De acordo com o sanitarista Alexandre Chieppe em artigo veiculado no jornal O Globo em 25/11/2011, merece destaque o número expressivo de casos de tuberculose multirresistentes no estado do Rio de Janeiro, que apontam para a necessidade qualificar a assistência e o acesso ao diagnóstico precoce. “A tuberculose é uma doença com determinantes sociais bem marcados, sendo possível estabelecer uma estreita relação com as condições de moradia, acesso aos serviços de saúde e alimentação adequada. Talvez esta seja uma das faces mais perversas da epidemia de tuberculose: a situação de extrema vulnerabilidade social que permeia as comunidades mais afetadas”, cita ele. O pesquisador destaca ainda a situação da Rocinha, onde a incidência da doença foi de 386,7 casos por 100.000 habitantes, cerca de quatro vezes maior do que a taxa média de incidência da cidade do Rio de Janeiro.

O Brasil executa desde o final de 2009 uma nova política de medicação contra a tuberculose, que diminuiu a quantidade de cápsulas ingeridas diariamente. Segundo o governo federal, a medida aumenta a adesão ao tratamento e consequentemente os índices de cura. Já neste ano, o SUS vai investir em um reforço nos testes para diagnóstico da tuberculose, passando a utilizar um exame que deve ajudar a identificar a doença em aproximadamente duas horas. O método, no entanto, não substitui as análises tradicionais realizadas para determinar casos da doença.

As pesquisas sobre a tuberculose deixam claro que as estratégias para o seu enfrentamento devem considerar o estigma sobre a doença e aqueles que dela sofrem. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2012, nove em cada 100 pacientes que iniciam o tratamento não levam os cuidados com a doença até o fim. O acesso ao diagnóstico e assistência e a conscientização dos pacientes e familiares sobre a importância do acompanhamento médico contínuo, também são elementos impreteríveis na implementação de políticas voltadas para a cura. O poder público precisa focar em campanhas que estimulem a confiabilidade entre profissionais de saúde e pacientes, fazendo com que as equipes de assistência consigam estabelecer com os indivíduos em tratamento uma relação de cumplicidade, que ajude a dirimir os índices de abandono do tratamento, elevando proporcionalmente os indicadores de cura.

Referências Bibliográficas

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Chieppe A. Tuberculose na Rocinha. O Globo. 2011 Nov 25; Seção Opinião:3 (col. 1).

Leitão T. Principal desafio para combater a tuberculose é reduzir o número de pacientes que abandonam o tratamento [Internet]. Brasília (DF): Agência Brasil; 2012 Abr 03 [acesso em 02 abr 2013]. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-03-04/principal-desafio-para-combater-tuberculose-e-reduzir-numero-de-pacientes-que-abandonam-tratamento

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