Ipea apresenta dados de vulnerabilidade social por cor, sexo e domicílio

De 2011 a 2015, o Brasil manteve tendência de redução da vulnerabilidade social, mas em velocidade inferior à observada no período entre 2000 e 2010. Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2011 e 2015, a taxa média anual de redução foi de 1,7%, ao passo que entre 2000 e 2010, com dados do Censo Demográfico, essa taxa era de 2,7% ao ano. Esse é um dos destaques do lançamento da nova plataforma do Atlas da Vulnerabilidade Social, ocorrido na sede do Ipea, em Brasília, nesta quarta-feira, 23/08. “É importante ressaltar que continuamos num processo de avanço na redução da desigualdade na dimensão Capital Humano, ligada à educação e à formação da família”, explica Marco Aurélio Costa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e coordenador do estudo.

Foram divulgados dados de 2011 a 2015, com base em informações da Pnad, além da desagregação desses dados por sexo, cor e situação de domicílio para o período e também para 2000 e 2010 – com base no Censo Demográfico (IBGE). Há dados por Unidades da Federação, macrorregiões, municípios e Unidade de Desenvolvimento Humano. “Olhando de 2014 para 2015, os resultados do Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) apontam para um momento de inflexão. Nesse momento, há um aumento de 2% da vulnerabilidade social no país, indicando que a tendência de queda dos últimos 14 anos pode estar estagnada”, explica a coordenadora técnica do Atlas, Bárbara Oliveira Marguti.

A dimensão que mais contribui para a diminuição na velocidade da redução da vulnerabilidade é a de Renda e Trabalho – composta por diversos indicadores associados ao fluxo de renda familiar insuficiente. Enquanto no decênio 2000-2010 houve uma redução do IVS Renda e Trabalho da ordem de 34%, com taxa média anual de 3,4%, no período de 2011 a 2015 ele caiu 3,3%, com taxa anual de apenas 0,8%. “Só no período de 2013 a 2015, a piora foi de 10,8%. Os dados mostram que houve uma estagnação nos números em 2013 e 2014, com um aumento brusco em 2015”, detalha Marguti.

Macrorregiões e RMs
No geral, a tendência de diminuição da vulnerabilidade se mantém entre 2011 e 2015, mas alguns pontos merecem destaque. Ao contrário do observado entre 2000 e 2010, em que a região Sul foi a que mais melhorou seus dados de vulnerabilidade, quando se analisa os dados da Pnad entre 2011 e 2015, essa região reduziu apenas em 2% sua vulnerabilidade, ao passo que o Norte e Sudeste alcançaram redução de mais de 10%, seguidos do Nordeste (8%) e Centro-Oeste (5%).

Os dados apresentados pela região Sul se devem, sobretudo, à dimensão Infraestrutura Urbana – que reflete as condições de acesso a serviços de saneamento básico e de mobilidade urbana. No ano de 2015, percebem-se dois extremos: enquanto a região Sul teve aumento nessa dimensão em 36%, a região Nordeste conseguiu diminuir sua vulnerabilidade em 37%. Segundo Bárbara Marguti, “é possível perceber que as políticas de redução da desigualdade no Norte e Nordeste parecem ter mais sustentação nesse período de inflexão que as implementadas no Sul do país”.

Há também uma contribuição da dimensão Renda e Trabalho, em que o Sudeste é a única região com piora nos números – aumento da vulnerabilidade na dimensão em 9,4%. O Centro-Oeste apresenta estagnação, com Norte e Nordeste diminuindo sua vulnerabilidade na faixa de 10%, seguidos do Sul, com 7%.

Entre as nove Regiões Metropolitanas que tiveram IVS calculado para o período de 2011 a 2015 – Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo –, além da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, o desempenho mais preocupante foi o do Recife: crescimento de 16% na vulnerabilidade social. São Paulo (2,4%), Porto Alegre (0,4%) e Fortaleza (3,9%) também tiveram piora no IVS. Os melhores resultados no período foram de Salvador – redução de 15,5% –, Belém (14,3%) e Belo Horizonte (10,9).

Desagregação dos dados
Os dados desagregados da Pnad mostram que é ainda bastante crítica a situação de vulnerabilidade social das mulheres que vivem na área rural. No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais sensível. Esse grupo apresentou, em 2015, alta vulnerabilidade social na dimensão Capital Humano – que envolve condições de saúde e acesso à educação. Nessas mesmas condições, as mulheres brancas estavam na faixa de média vulnerabilidade.

Embora com uma diferença substancial de 37%, pela primeira vez desde 2000 a população negra ocupa a mesma faixa de baixa vulnerabilidade social que a população branca. No entanto, quando se analisa a trajetória desses mesmos grupos, a vulnerabilidade social de pessoas negras era 49% maior que a de pessoas brancas em 2000 e essa diferença continuou alta em 2010 (48%).

“Em números absolutos, os resultados evidenciam que a desigualdade de cor continua significativa, ou seja, os dez anos de referência não foram suficientes para minimizar ou reduzir significativamente esta desigualdade”, explica o estudo. Entre negros e brancos, as maiores diferenças no período de 2011 a 2015 se concentram na dimensão Capital Humano, com leve redução da vulnerabilidade social (49%) em 2011 e novo crescimento em 2015 (57%), assim como na dimensão Renda e Trabalho, que cresceu 50% no período.

Confira os principais resultados do Atlas da Vulnerabilidade Social

Acesse a plataforma do Atlas da Vulnerabilidade Social

Confira a apresentação do Atlas da Vulnerabilidade Social

 

*Foto da home: Ipea

 

Fonte: Ipea apresenta dados de vulnerabilidade social por cor, sexo e domicílio. Brasília: Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; 2017 Ago 23. [acesso em 25 ago 2017]. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30790&catid=1&Itemid=7 

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