Dr. Rüdiger Krech fala sobre suas esperanças e expectativas para a CMDSS, em entrevista publicada no site da OMS, em 6 de outubro de 2011 – Dr. Rüdiger Krech é Diretor do Departamento de Ética, Comércio Equidade e Direitos Humanos da OMS e responsável pela organização na OMS da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde.
Como você descreveria a sua visão para esta conferência?
Três anos atrás, quando a Comissão da OMS sobre Determinantes Sociais da Saúde lançou o seu relatório final, achamos que tínhamos chegado a um ponto de não retorno. Agora, com a crise financeira global – que tem intensificado ainda mais as desigualdades sociais e de saúde em todo o mundo – este sentimento é ainda mais presente. Nós simplesmente não podemos ficar à margem por mais tempo – temos de pressionar por uma ação decisiva para criar sociedades mais justas. Por essa razão, sinto que não poderia haver um melhor momento ou um local melhor para esta conferência.
Estamos certamente atraindo o público certo. É muito encorajador que mais de 90 Estados-Membros já confirmaram sua presença e mais de 50 delegações serão chefiadas por ministros da Saúde. Alguns países estarão enviando delegações intersetoriais, com até três ministros. Fico muito satisfeito porque os membros da Comissão da OMS sobre Determinantes Sociais da Saúde também estarão presentes, incluindo seu presidente, Sir Michael Marmot, bem como vários ex-chefes de redes de conhecimento. Estarei interessado em saber como se sentem quando vêem todo este movimento global desencadeado pela Comissão.
O compromisso dos Estados-Membros é muito forte, e assim é o engajamento de nossos principais parceiros – agências das Nações Unidas, a comunidade científica e organizações não governamentais. Haverá 19 eventos paralelos, liderados por ministérios da Saúde e outros interessados. A revista The Lancet e o Boletim da OMS também estão cobrindo o evento, o que é realmente crucial. O governo brasileiro tem feito um trabalho maravilhoso na preparação da conferência e estamos honrados que o vice-presidente brasileiro, deputado Michel Temer, irá dirigir-se à audiência no primeiro dia.
O senhor poderia resumir as recomendações da OMS para políticas nesta área?
Na medida em que dados detalhados se tornam mais disponíveis, a extensão das lacunas de saúde dentro dos países está se tornando mais evidente e mais preocupante. Em todos os países – seja de alta, média ou baixa renda – onde você se situa na escala socioeconômica e onde você mora afeta o estado de sua saúde. Por isso, queremos defender um enfoque de “determinantes sociais da saúde” e construir um forte apoio para o desenvolvimento de estratégias nacionais e planos de ação para combater as iniquidades em saúde.
É absolutamente crucial para a OMS mudar o discurso sobre os determinantes sociais da saúde indo de o “quê” e o “porquê” para o “como” e demonstrar que existem soluções políticas eficazes. Há um progresso significativo na agenda dos determinantes sociais em todas as regiões da OMS – e Escritórios Regionais – e a conferência será uma excelente oportunidade para reunir o conhecimento e as evidencias que têm sido desenvolvidos desde o lançamento do relatório da Comissão.
Eu também acho que este evento irá proporcionar uma importante plataforma para a OMS e demais interessados em acompanhar os desdobramentos da Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre Prevenção e Controle de Doenças Não Transmissíveis. Nesta reunião os líderes globais destacaram a importância de envolver setores tais como indústria, transportes e meio ambiente para combater doenças não transmissíveis – e nós procuraremos reforçar o compromisso político em apoio à ação intersetorial.
Qual é o status da declaração?
A Declaração do Rio sobre Determinantes Sociais da Saúde será uma declaração política, expressando o compromisso de tomar medidas decisivas para reduzir as desigualdades de saúde. Os Estados-Membros começaram a discutir o projeto de texto no início de setembro e nós tivemos oito reuniões muito produtivas desde então. São reuniões informais das missões dos Estados-Membro baseadas em Genebra e temos mais de 40 governos ativamente engajados nessas discussões. No momento, o texto já alcançou um bom nível de negociação e vamos finalizá-las durante a conferência no Rio de Janeiro.
O que acontecerá depois da conferência?
Prevemos que os Estados-Membros levarão a Declaração à Assembleia Mundial da Saúde em 2012, o que significa que haverá um importante acompanhamento, tanto a nível internacional como nos Estados-Membro. Várias conferências relacionadas já estão definidas para este ano – por exemplo, no Reino Unido, na Alemanha e na Austrália. Além disso, eu tenho certeza de que haverá um acompanhamento adequado durante a Conferência Rio +20, e a conferência de promoção da saúde na Finlândia em 2013.
Outro objetivo fundamental que temos é sistematizar o nosso conhecimento após a conferência. As redes de conhecimento têm sido fundamentais para gerar evidências sobre as iniquidades em saúde, e agora temos de construir a infraestrutura necessária para conectar todas as principais partes interessadas e facilitar o intercambio de conhecimentos. O setor da saúde opera dentro de uma estrutura bastante vertical e precisamos ajudar as partes interessadas a superar isso e pressionar por um grau de expansão horizontal e coerência das políticas de saúde.
Gostaríamos também de unir forças com organizações da sociedade civil e da academia, cujas iniciativas serão fundamentais para traduzir os resultados da conferência em ação. Neste contexto, a OMS vai lançar uma plataforma eletrônica de discussão chamada “Ação: DSS”, buscando o desenvolvimento de uma comunidade global de prática para abordar os determinantes sociais da saúde. Faremos um evento de lançamento no Rio de Janeiro e também vamos apresentar a plataforma neste site em breve.
Referência Bibliográfica
Krech R. Interview with Dr Rüdiger Krech [entrevista na internet]. [6 out 2011]. Entrevista concedida ao Site da OMS. [acesso em 10 out 2011]. Disponível em: http://www.who.int/sdhconference/background/news/interview_krech/en/index.html
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