DSS no território local: Cooperação Social e unidades debatem governança territorial na Fiocruz

No dia 30 de março a Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e profissionais das unidades Instituto Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e Campus Fiocruz Mata Atlântica promoveram no Instituto Oswaldo Cruz(IOC), no auditório do Pavilhão Helio Peggy Pereira, o debate Rede e Governança Territorial. Durante o encontro foram apresentadas três iniciativas de governança territorial. A roda de conversa focou na missão do conhecimento crítico em territórios vulneráveis. O Centro de Estudos Políticas e Informação sobre Determinantes Sociais da Saúde (CEPI DSS) esteve presente, representado por sua coordenadora Patrícia Tavares Ribeiro.

Leonardo Brasil Bueno, um dos organizadores do debate, lembrou que a ideia da roda foi a de dar continuidade aos dois encontros anteriores que tinham foco na mesma perspectiva. Para ele, um debate e a ação voltados para um pensamento coletivo pode trazer mudanças essenciais aos territórios vulnerabilizados. “Entendemos ser necessário tratar do tema e articular a parceria dos movimentos sociais com a gestão e entender as vulnerabilidades dos territórios”, ressaltou.

Gilson Antunes, Coordenador do Campus Fiocruz Mata Atlântica, que fica em Jacarepaguá, na zona Oeste do Rio de Janeiro, falou sobre sua gestão, que se baseia numa proposta de bem estar comum, envolvendo a comunidade em ações de proteção ambiental e promoção da saúde. “Pensamos a saúde em uma visão amplificada, sob o prisma dos Determinantes Sociais da Saúde, entendendo a saúde mais como tendência social, que como técnica. É preciso pensar a realidade local como algo complexo, com múltiplas determinações. Levar em conta a responsabilidade ambiental, a qualidade do acesso da população aos serviços e direitos e, numa visão atual, pensar a requalificação urbana”, destacou ele.

A atuação da gestão em parceria com as comunidades dando conta das contradições do território e atendendo suas demandas, focando na parceria e na confiança, também foi ressaltada na fala de Gilson. “A proposta da Fiocruz é se comprometer com a mudança da realidade. Trabalhar uma perspectiva com a construção de redes e entender o conceito ampliado de Saúde e Determinantes Sociais”, reiterou.

Gilson e sua equipe realizaram cursos, workshops e vem promovendo ações de orientação em saúde e sobre o meio ambiente. Eles buscaram através do diálogo, construir relações saudáveis, abrindo as portas da instituição. Gilson destacou o Campus e a área de seu entorno como sendo uma localidade preservada, em meio ao crescimento urbano intenso na região de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca.

Em sua apresentação ele lembrou ainda alguns desafios do SUS que estão especialmente ligados ao desenvolvimento de projetos intersetoriais. Para Gilson, projetos piloto, reaplicáveis em outros territórios, são o caminho para a evolução da atenção, se trabalharem a articulação com instâncias representativas da gestão, sociedade civil e agentes públicos.

Temas como acesso à saúde, processos geradores de desordem urbana, baixa governança da população e questões fundiárias foram focadas por Gilson como pontos de tensão em territórios vulneráveis. “Pode sim existir um desenvolvimento com inclusão social. Podemos evoluir mais. Ainda existem grandes lacunas no trabalho intersetorial”, disse ele.

O gestor ainda citou o papel da instituição nesta mediação entre sociedade e poder público. “A ideia é interagir, integrar as equipes na proposição de soluções para as questões locais”, concluiu.

Outra experiência apresentada foi a iniciativa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, representada por Marcelo Melo e Michelle Oliveira, para a educação de jovens e adultos. Ele citou a parceria entre a Escola e a Rede CCAP, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) local. Marcelo destacou o estímulo à participação comunitária como algo efetivo na adesão dos moradores da região de Manguinhos ao projeto. “O incentivo para a construção do conhecimento, que contribui para territórios saudáveis é muito importante. Outro ponto é o reconhecimento da educação como um Determinante Social da Saúde”, disse Marcelo.

Hoje o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) atua com sete turmas. Marcelo destacou que, em sala de aula, os professores buscam valorizar a identidade local e incentivar os alunos a reconhecer e lutar por seus direitos. Ele comemorou o fato de alunos do EJA já estarem hoje em universidades e citou a realização de atividades culturais promovidas no curso, para alunos e moradores da comunidade. “É nosso objetivo garantir que a escola vai sempre debater temas presentes no território”, ressaltou.

Rosane Marques, profissional do CLAVES/ENSP, falou sobre a criação de uma tecnologia social voltada para a aferição da efetividade das ações de saúde no território. Ela destacou a importância de estratégias de articulação, educação e comunicação em nível local, em Manguinhos. Rosane buscou, através da identificação de atores sociais na comunidade, demonstrar as demandas da população naquela região.

A pesquisadora destacou a importância de fomentar ações e ferramentas de comunicação, tais como os veículos comunitários em circulação na região como uma importante estratégia de interlocução e articulação entre cidadãos envolvidos na promoção da equidade.

Marcus Giraldes, analista de Gestão em Saúde da ENSP, falou da importância de buscar as demandas dos movimentos sociais ao debater as necessidades dos territórios, bem como da mediação entre os setores.

A coordenadora do CEPI DSS, Patrícia Tavares Ribeiro falou da relevância de olhar para as necessidades específicas de cada território. “O governo federal já vem trabalhando abordagens territoriais nas políticas públicas, mas é preciso avançar em parcerias que contemplem a cooperação intersetorial”, disse ela.

Retomando a fala, Leonardo lembrou a relação entre Determinantes Sociais da Saúde e a Promoção da Saúde como referência para a busca de soluções no território ligadas à processos sociais e saúde. Para ele a comunicação do campo científico com o conhecimento popular, assim como a produção do conhecimento com sujeitos da sociedade civil são interseções fundamentais para avançar neste processo.

 

 

 

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