“Na semana passada, os americanos, os profissionais de saúde e os políticos receberam notícias chocantes. Apesar de gastar mais em saúde por pessoa do que outros países de alta renda, os americanos morrem mais cedo, têm menos probabilidade de atingir a idade de 50 anos, e têm maiores taxas de doenças ou lesões. Quando julgados apenas pelos resultados em saúde, os americanos são menos saudáveis ??desde o nascimento até 75 anos de idade do que as pessoas em outros 16 países economicamente ricos, e esta desvantagem em saúde vem piorando nos últimos 30 anos, especialmente entre as mulheres.
Em um relatório divulgado em 09 de janeiro pelo National Research Council (Conselho Nacional de Pesquisas) e pelo Instituto de Medicina dos EUA, intitulado “Saúde nos EUA em Perspectiva Internacional: vidas mais curtas, pior saúde” são apresentados dados de mortalidade e morbidade, comparando os EUA com países ricos e democráticos, incluindo a Austrália, Canadá, França, Itália, a maioria dos países nórdicos, Espanha e Reino Unido. A expectativa de vida é menor ao nascer para os homens americanos do que para os homens em qualquer um dos outros 16 países. As mulheres americanas estão em situação um pouco melhor, pois a Dinamarca é o único país que tem uma menor expectativa de vida ao nascer para as mulheres. Em nove das principais áreas de saúde, os americanos estão na parte inferior das tabelas. Estas áreas são: mortalidade infantil e baixo peso ao nascer; lesões e homicídios; gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis; prevalência de HIV/AIDS; mortes relacionadas com drogas; obesidade e diabetes; doença cardíaca; doença pulmonar crônica e incapacidades. Esta desvantagem na saúde aplica-se a pessoas com seguro de saúde, educação universitária, rendas mais altas, e comportamentos saudáveis, assim como para aquelas sem estes atributos.
Algumas boas notícias no relatório: os americanos que atingem 75 anos vivem mais do que seus pares em outros países, e os americanos têm baixa mortalidade por acidente vascular cerebral e câncer. Além disso, as taxas de tabagismo são baixas, o que deve levar a benefícios de saúde futuros, e a renda familiar é relativamente alta.
Os gastos com saúde nos EUA alcançaram 2,7 trilhões de dólares em 2011, o que corresponde a 8700 dólares para cada pessoa no país, e representa 17,9% do PIB, cifra muito maior do que qualquer outro país economicamente avançado. Entretanto, os gastos com cuidados de saúde tem pouca relação com a boa saúde.
Por que os americanos se encontram nesta situação de desvantagem na saúde em comparação com outros países? O sistema de saúde fragmentado e, em especial, o acesso precário a cuidados de saúde e aos cuidados primários, são parcialmente responsáveis. A falta de seguro, ou seguro insuficiente, restringe o acesso aos cuidados de saúde para muitos americanos. Mas o sistema de saúde não é o único problema. Comportamentos insalubres abundam nos EUA, particularmente excessos na alimentação, abuso de drogas e outros comportamentos de risco, tais como não usar capacetes de moto, beber e dirigir, e o uso de armas de fogo. Condições sociais e econômicas nos EUA contribuem para que haja alta renda para alguns e elevada pobreza e desigualdade de renda para outros, bem como para os baixos padrões de educação. Redes de segurança social não são tão robustas como em outros países. Além disso, as cidades nos EUA muitas vezes são construídas em torno do uso do carro, o que desestimula a atividade física e contribui para a obesidade.
A mudança é necessária. O primeiro passo é implementar a Estratégia Nacional de Prevenção: “Plano dos EUA para uma melhor saúde e bem-estar”, que foi publicado em junho de 2011. Em seguida, duas causas dominantes da desvantagem de saúde dos EUA merecem menção especial. Para as pessoas com mais de 50 anos, a prevenção de doenças cardiovasculares por meio, por exemplo, da campanha Million Hearts é fundamental. Para aqueles com menos de 50 anos, a prevenção de lesões e mortes em acidentes de trânsito ou por armas de fogo e a prevenção e tratamento do HIV são alvos importantes. Considerar e adaptar as políticas de promoção da saúde de outros países é também recomendável, assim como a realização de mais pesquisas para descobrir por que, por exemplo, Japão, Suíça e Itália têm resultados de saúde relativamente bons em muitas áreas.
Além de melhorar o acesso aos cuidados de saúde, são necessárias políticas sociais, econômicas, de saúde e meio ambiente para aumentar a disponibilidade de emprego, educação, alimentação saudável e atividade física, a fim de reduzir a desvantagem dos EUA em saúde.
Para promover e apoiar um contínuo debate sobre este tema, saúde nos EUA será o tema de uma edição especial da revista The Lancet em 2014. Em conjunto com Tom Frieden e Harold Jaffe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), vamos publicar trabalhos de revisão de novas oportunidades para melhorar substancialmente a saúde na era do Affordable Care Act. Temas já planejados incluem mortalidade prematura nos EUA, o impacto da violência e lesões, os desafios de doenças não transmissíveis e infecções, saúde pública e biossegurança, bem como o papel dos EUA na saúde global.
Os EUA são um dos países mais ricos do mundo e deve ser também um dos mais saudáveis do mundo”.
Para o relatório sobre desvantagem em saúde dos EUA ver http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=13497
Para a estratégia nacional de prevenção ver http://www.healthcare.gov/prevention/nphpphc/strategy/report.pdf
Referências Bibliográficas
Million Hearts [homepage na internet]. Atlanta; c2013 [atualizado em 28 jan 2013; acesso em 31 jan 2013]. Disponível em: http://millionhearts.hhs.gov/index.html
The National Academies Press [homepage na internet]. Washington (DC); c2013 [atualizado em 28 jan 2013; acesso em 31 jan 2013]. Disponível em: http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=13497
National Prevention Council, National Prevention Strategy. Washington (DC): U.S. Department of Health and Human Services, Office of the Surgeon General; 2011 [acesso em 28 jan 2012]. Disponível em: http://www.surgeongeneral.gov/initiatives/prevention/strategy/report.pdf
Patient Protection and Affordable Care Act. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. [acesso em 28 jan 2013]. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Patient_Protection_and_Affordable_Care_Act
Wealth but not health in the USA [editorial]. Lancet. 2013 [acesso em 28 jan 2013]; 381(9862):177. Disponível em: http://download.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140673613600690.pdf?id=5bbe37e152166496:7df63843:13c80baedab:61a1359374166315
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