Indicador do Observatório sobre este tema:
Ind020102
Amplamente utilizada na saúde pública e nas ciências sociais, a esperança ou expectativa de vida ao nascer, além de ser uma medida do nível de mortalidade de uma população, é um indicador sintético da qualidade de saúde e de vida de países e regiões. Pode-se dizer que é o número médio de anos que se espera que viva um grupo de indivíduos nascidos no mesmo ano, se mantidas, desde o nascimento, as taxas de mortalidade existentes na população residente no período de tempo considerado (Belon, 2011).
Por volta de 1800, o tempo médio de vida não ultrapassava os 30 anos. A partir do século XX houve um expressivo crescimento da esperança de vida ao nascer e diminuição das desigualdades do tempo médio de vida entre os países, chegando ao final do século com um patamar médio global de aproximadamente 67 anos de idade. No Brasil, a esperança de vida ao nascer para os anos de 1900, 1910, 1920 e 1930 aumentou gradualmente, e foi de respectivamente, 33,7 anos, 34,08 anos, 34,51 anos e 36,49 anos. Para o período 1930-40, a esperança de vida média passou a ser de 41,5 anos, o que corresponde a um ganho significativo em relação aos trinta anos anteriores.
Segundo o indicador 020102 do nosso Observatório, que tem como base os dados do IBGE, a esperança de vida ao nascer dos brasileiros era de 70,4 anos no ano de 2000, e passou a ser de 73,3 em 2009, representando um grande ganho em relação ao período de 1930-40 (aumento de 31,8 anos). Mas ainda estamos muito aquém de outros países, como é o caso do Japão, que segundo a ONU, apresentou em 2010 a maior esperança de vida do mundo: 82,73 anos. O nosso indicador também revela que há uma diferença consistente na esperança de vida ao nascer entre homens e mulheres, que tem vivido em torno de 7 anos a mais do que os homens. Em 2000, as mulheres apresentavam uma esperança de vida ao nascer de 74,4 anos e os homens de 66,7 anos. Em 2009, apesar do aumento da expectativa de vida ao nascer em número de anos em ambos os sexos, a diferença se manteve, sendo de 77,1 anos para as mulheres e 69,6 anos para os homens. Segundo a Tábua de Mortalidade da população do Brasil para 2011, que incorpora os dados populacionais do Censo Demográfico 2010, é esperado que homens e mulheres, nascidos em 2011, vivam em média 70,6 e 77,7 anos, respectivamente.
No Brasil, as diferenças regionais em relação à esperança de vida podem ser constatadas desde os anos 1930-40, e refletem os níveis de sobrevivência discrepantes das populações de cada uma das macrorregiões brasileiras nesse período. O Nordeste apresentava, em 1940, os menores valores de esperança de vida ao nascer (36,7 anos) comparados aos 49,2 anos no Sul, 47,9 no Centro-Oeste e 43,5 no Sudeste. Durante o período de 1975 a 2000 houve uma redução significativa nos padrões históricos das desigualdades regionais em relação à mortalidade, tendo a região Nordeste apresentado, os maiores ganhos da esperança de vida. O relatório da CNDSS mostra uma diferença bastante impactante na região Nordeste (vide gráfico abaixo), principalmente entre os anos de 1960 e 2006. Em 1960, a diferença na expectativa de vida entre o Nordeste e Sul era de 20 anos, já em 2006 essa diferença caiu para 5 anos. No entanto, apesar das análises regionais apresentadas pelo nosso indicador (Ind020102) também mostrarem a mesma tendência de aumento da esperança de vida ao nascer entre 2000 e 2009, ainda existe desigualdades importantes que persistem entre as regiões ao longo do período analisado. No ano de 2009, por exemplo, enquanto na região Sudeste as pessoas de ambos os sexos tiveram uma esperança de vida de 74,7 anos (homens com 70,4 anos e mulheres com 78,7 anos), a região Nordeste apresentou valores bem mais baixos, 70,5 anos de idade (homens com 66,9 anos e mulheres com 74,1 anos).
De certa forma, essas diferenças regionais, desde as décadas de 1930-40, já mostravam uma concentração de investimentos econômicos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que se beneficiaram de iniciativas nos sistemas de saúde pública, previdência social, infraestrutura urbana e regulamentação do trabalho. Todos esses fatores concorreram para o controle e redução das doenças infectocontagiosas, até então de elevada incidência e letalidade, contribuindo para o aumento da vida média ao nascer. Além disso, nos anos seguintes (principalmente nos anos 1960), nas regiões Sudeste e Sul, pela primeira vez, a mortalidade por doenças cardiovasculares superou a mortalidade por doenças infecciosas, o que viria a ocorrer nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste somente duas décadas depois, durante os anos 80. Gerando, assim, um impacto na esperança de vida ao nascer distinto entre as macrorregiões.
Na região Nordeste, a redução da mortalidade infantil que ocorreu a partir de 1980 está principalmente ligada à contribuição de programas nacionais de atenção à saúde materno-infantil dirigidos à atenção pré-natal, ao parto e ao puerpério, à vacinação, ao aleitamento materno e à reidratação oral. Essas ações promoveram o aumento da esperança de vida ao nascer, mas o processo histórico de poucos investimentos na região deixou o Nordeste a alguns passos atrás das outras regiões do país ao longo de todos esses anos, persistindo as diferenças até os dias atuais. Segundo Eduarda Cesse, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fundação Oswaldo Cruz), algumas capitais experimentaram mais precocemente mudanças na estrutura etária, urbanização e desenvolvimento, e isso influenciou também, de forma mais precoce, o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis e as taxas de mortalidade.
Melhor distribuição de renda, melhores níveis de educação, maior cobertura e acesso aos serviços de saúde e saneamento básico, bem como menores índices de violência, criminalidade, e poluição são vistos como determinantes potenciais das desigualdades em saúde que influenciam na queda da mortalidade, adicionando anos a esperança de vida ao nascer. Sendo assim, ao utilizarmos modelos mais amplos dos determinantes sociais da saúde, que tem na sua composição a hierarquia entre fatores proximais e distais em diferentes níveis, é possível ter um melhor arcabouço teórico a fim de promover ações que visem o aumento da esperança de vida ao nascer das populações.
Referências Bibliográficas
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Cesse E. Epidemiologia e determinantes sociais das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil [tese de doutorado]. Recife: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz; 2007 [acesso em 25 jun 2013]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/3905
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