Acaba de ser publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas um artigo assinado por pesquisadores do Serviço de Referência em Esquistossomose da Fiocruz Pernambuco (Elainne Gomes e Constança Barbosa) e da Universidade Federal de Pernambuco. Intitulado “Esquistossomose Urbana: um estudo ecológico descrevendo um novo desafio para o controle dessa doença tropical negligenciada”, o texto traz resultados do monitoramento da entrada, instalação e permanência da transmissão da esquistossomose na região costeira do estado, durante duas décadas, de 2000 a 2010 e de 2010 a 2020.
Entre os achados do estudo, o número de focos de transmissão da doença encontrados pelos investigadores foi diminuindo ao longo do tempo: de 15, em 2000, para 11, em 2010, chegando a um total de 9, em 2020. A prevalência da doença também caiu nos períodos observados: 32,5% (2000), 16,6% (2010) e 8,8% (2020). Com relação ao caramujo hospedeiro do Schistosoma mansoni a tendência observada foi diferente. A taxa de infecção – que reduziu de 16,1% (2000) para 5,8% (2010) – teve um crescimento para 7,2% (2020).
O processo desordenado de urbanização na localidade estudada se mostrou diretamente relacionado com a distribuição espacial dos focos de transmissão e dos casos de esquistossomose detectados. Diferentemente do que acontece na zona rural, onde a transmissão se dá pelo contato da população com rios contaminados por águas servidas durante o desenvolvimento de atividades laborais ou de lazer; a transmissão urbana ocorre de forma acidental e involuntária, quando os indivíduos transitam por focos sazonais de transmissão da doença, em ruas inundadas e com esgoto a céu aberto, durante seu deslocamento ao sair de casa. Para os cientistas envolvidos no estudo, o desafio que surge com essa nova forma de transmissão vai requerer um conhecimento maior da migração desordenada, da ocupação espacial decorrente dos processos de urbanização e da degradação do ambiente.
“O objetivo deste trabalho foi apresentar a transmissão urbana da esquistossomose como um dos grandes desafios a ser enfrentado pelo Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) para que se possa pensar em seu real controle e eliminação, retirando essa doença negligenciada do hall das doenças endêmicas que há séculos acometem a população brasileira”, explica a pesquisadora Elainne Gomes. Com base nos resultados apresentados e nos dados descritos na literatura, o trabalho aponta que apenas ações integradas de vigilância em saúde, tratamento seletivo da população doente e garantia integral de saneamento básico e água potável serão bem-sucedidas no que tange ao controle da esquistossomose no Brasil.
Leia o artigo na íntegra: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667193X2100140X
Fonte: Instituto Aggeu Magalhães . 16/12/2021
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