O Suplemento “A Panorama of Health Inequalities in Brazil” é uma edição especial do International Journal for Equity in Health. É um abrangente panorama das desigualdades em saúde no Brasil, que traz 14 artigos inéditos, avaliados e publicados por um dos periódicos internacionais mais importantes nessa área. O suplemento foi editado por James Macinko, professor dos departamentos de Ciências da Saúde Comunitária e Gestão e Políticas de Saúde da Universidade da Califórnia em Los Angelas (UCLA), e Célia Landmann Szwarcwald, pesquisadora titular do Icict/Fiocruz, e também uma das responsáveis pela coordenação técnica do estudo da PNS 2013.
A edição traz ainda comentários do Professor Michael Marmot, da University College London, que tem liderado a pesquisa sobre as desigualdades em saúde no mundo há 40 anos, e do Professor Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas, epidemiologista brasileiro, que tem vários estudos nessa área de pesquisa. O International Journal for Equity in Health é uma das fontes mais importantes para a pesquisa de determinantes sociais da saúde sob a óptica das políticas de saúde e sociais dos países. Oferece conteúdo em acesso aberto e revisado por pareceristas de instituições de referência internacionais. Periodicamente, publica suplementos especiais, por país como tema.
Confira os principais resultados encontrados no suplemento especial “A Panorama of Health Inequalities in Brazil”:
Qualidade de vida
Artigo: “Inequalities in healthy life expectancy by Brazilian geographic regions: findings from the National Health Survey, 2013” (Szwarcwald et al.)
Achados: foram encontradas grandes disparidades na expectativa de vida saudável por região geográfica, com os piores indicadores nas regiões mais desfavorecidas socialmente. Para homens e mulheres de 20 anos de idade, o número esperado de anos de vida com boa saúde entre os residentes das regiões Sul e Sudeste supera em, pelo menos, 6 anos o número esperado dos residentes das regiões Norte e Nordeste.
Artigo: “Socioeconomic inequalities in activities of daily living limitations and in the provision of informal and formal care for noninstitutionalized older Brazilians: National Health Survey, 2013” (Lima-Costa et al.)
Achados: de cada dez brasileiros com 60 anos ou mais, três possuem limitações funcionais. Desses, 25% precisam de ajuda para realizar pelo menos uma atividade de vida diária, como se alimentar, tomar banho, ir ao banheiro, se vestir, andar pelo quarto ou sala ou levantar da cama. Os idosos de melhor nível socioeconômico relataram menos necessidade de ajuda e receberam mais cuidados formais, enquanto que os mais pobres tiveram que contar com cuidados informais da família e de amigos.
Doenças Crônicas
Artigo: “Social inequalities in the prevalence of self-reported chronic non-communicable diseases in Brazil: national health survey 2013” (Malta et al.)
Achados: 45% dos brasileiros possuem o diagnóstico de alguma doença crônica não transmissível, como diabetes, hipertensão, ou doença renal crônica. Foram encontradas desigualdades significativas por nível de instrução, sendo os indivíduos com ensino fundamental incompleto os que têm maiores chances de possuir alguma doença crônica e maior grau de limitação.
Artigo: “Time trends in adult chronic disease inequalities by education in Brazil: 1998-2013” (Beltrán-Sanchez et al.)
Achados: houve redução das desigualdades por grau de escolaridade na prevalência de hipertensão e doença do coração. Contudo, a disparidade na prevalência de diabetes apresentou crescimento no período 1998-2013, com indivíduos não escolarizados apresentando prevalência de duas a três vezes maior do que aqueles com melhor nível educacional em 2013.
Artigo: “Inequalities in access to treatment for depression: results of the Brazilian National Health Survey” (Lopes et al.)
Achados: há prevalência de 7.9% de depressão na população brasileira. O estudo mostrou que embora a maioria dos pacientes com sintomas clínicos de depressão não esteja recebendo tratamento (78,8%), os indivíduos de melhor nível educacional, brancos, e com múltiplas morbidades têm menos dificuldades de acesso à assistência de saúde mental.
Artigo: “Educational inequalities and self-reported hypertension: complex patterns in intersections with gender and race in Brazil” (Alves e Faerstein)
Achados: a prevalência de hipertensão foi maior entre as mulheres (23,6%) do que entre os homens (18,8%), com excesso de risco entre as mulheres, independentemente da raça. Mulheres não brancas apresentaram prevalência mais alta do que as brancas, mas não foram encontradas desigualdades por raça entre os homens. Há uma associação inversa entre a hipertensão e a escolaridade entre as mulheres brancas e pardas, enquanto entre os homens brancos e pardos, a associação foi direta.
Artigo: “Regional and social inequalities in the performance of Pap test and screening mammography and their correlation with lifestyle: Brazilian national health survey, 2013” (Theme-Filha et al.)
Achados: o estudo mostrou que no Brasil uma melhor cobertura do exame Papanicolau (78.8%) do que a mamografia (54,5%). Mostrou-se desigualdades do acesso a esses exames, com maior acesso entre mulheres brancas, residentes nas regiões Sul e Sudeste, com melhor nível de educação, que vivem com companheiro e têm plano de saúde.
Acesso aos serviços de saúde
Achados: Mais de 90% das gestantes alegaram terem comparecido a quatro ou mais consultas de atendimento pré-natal e acesso ao parto hospitalar. A prevalência de uso de contraceptivos foi de 83%, resultado considerado excelente. Contudo, a proporção de partos cesáreos também aumentou ao longo do tempo, alcançando 55% dos partos realizados em hospitais do SUS. Foram encontradas, igualmente, redução das disparidades por nível socioeconômico para todas as intervenções, exceto para as cesarianas.
Artigo: “Inequalities in healthcare utilization: results of a Brazilian National Health Survey, 2013” (Boccolini e Souza-Júnior)
Achados: estudo mostrou que 0,7% da população brasileira nunca se consultou com médico, 3,3% nunca consultou um dentista, 3% nunca teve a sua pressão arterial aferida, 11,5% nunca realizou exame de glicemia, e 15% nunca utilizou pelo menos um desses serviços. A maior subutilização dos serviços de saúde foi encontrada entre indivíduos da classe E, adultos jovens, com ensino fundamental incompleto, e que não possuem plano de saúde.
Artigo: “Changes in health care inequity in Brazil between 2008 and 2013” (Mullachery et al.)
Achados: Entre 2008 (PNAD) e 2013 (PNS), houve aumento na proporção de pessoas que se consultaram com médico e com dentista, e diminuição na proporção de internações hospitalares. Em 2013, a desigualdade por nível socioeconômico na proporção de consultas médicas e odontológica aumentou, em favorecimento dos mais ricos, tendo como fatores associados o grau de instrução, bens e plano de saúde.
Artigo: “The effect of the Family Health Strategy on usual source of care in Brazil: data from the 2013 National Health Survey (PNS 2013)” (Dourado et al.)
Achados: o percentual de procura de um serviço usual de saúde foi elevado (74,4%), com mais de um terço dos usuários respondendo que procura, usualmente, a atenção básica quanto tem um problema de saúde. O cadastramento do domicílio no Programa de Saúde da Família mostrou-se positivamente associado à procura usual de serviços de atenção básica e negativamente ao uso de serviços de emergência como local de procura usual de assistência de saúde.
Violência
Artigo: “Regional disparities in road traffic injuries and their determinants in Brazil, 2013” (Morais Neto et al.)
Achados: as regiões mais desfavorecidas do Brasil possuem proporções mais elevadas de acidentes de trânsito com lesões corporais, apontando para disparidades regionais relevantes. Os acidentes de motocicleta contribuíram significativamente para as altas taxas de acidentes de trânsito e foram mais prevalentes entre os homens, de 18 a 29 anos de idade, de cor negra ou parda, sem ensino médio, com uso frequente de álcool, e residentes nas regiões Norte, Centro-Oeste ou Nordeste.
Artigo: “The relationship between the Maria da Penha Law and intimate partner violence in two Brazilian states” (Gattegno M et al.),
Achados: houve aumento na proporção de violência física e decréscimo na prevalência de violência sexual e psicológica, na comparação com os dados de estudo sobre violência doméstica contra mulheres antes da promulgação da Lei Maria da Penha em São Paulo e Pernambuco.
Hábitos de saúde
Artigo: “Social inequalities in health behaviors among Brazilian adults: National Health Survey, 2013” (Barros et al.)
Achados: mostrou desigualdades importantes nos comportamentos saudáveis, com maior prevalência de fumo, menor frequência de atividade física no lazer e maior sedentarismo, consume de leite integral e baixa ingestão de vegetais, legumes e frutas entre os indivíduos com baixo nível de instrução, não brancos, e que não possuem plano de saúde. Os homens, quando comparados às mulheres, mostraram maior frequência de hábitos não saudáveis, como fumo, consumo de bebidas alcoólicas, carne com gordura, além de menor consumo de vegetais, legumes e frutas.
Referências Bibliográficas
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Barros MBA, Lima MG, Medina LPB, Szwarcwald CL, Malta DC. Social inequalities in health behaviors among Brazilian adults: National Health Survey, 2013. Int J Equity Health [periódico na internet]. 2016 [acesso em 09 dez 2016];15:148. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5112654/
Fonte: Tourinho R, Bezerra A. Principais resultados: “A Panorama of Health Inequalities in Brazil”. Rio de Janeiro: Icict/Fiocruz; 2016 Dez 08. [acesso em 15 dez 2016]. Disponível em: http://www.icict.fiocruz.br/content/principais-resultados-%E2%80%9C-panorama-health-inequalities-brazil%E2%80%9D
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