* Por: Jha A, Kickbusch I, Taylor P, Abbasi K. Accelerating achievement of the sustainable development goals. BMJ 2016;352:i409.
Mudando o jogo na saúde global
Em setembro de 2015, aproximadamente 200 nações adotaram os 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODSs) como uma estrutura universal, transformadora para tratar três dimensões interligadas do desenvolvimento de nossa existência global – pessoas, planeta e prosperidade [i]. Elas afirmam-se na noção de que sustentabilidade não é só uma aspiração, mas uma necessidade. Entretanto, com a sustentabilidade ampliando o escopo e objetivos de seus predecessores (os objetivos de desenvolvimento do milênio), os ODSs estabeleceram uma teia maior. Para atingi-los, necessitaremos ações coletivas para criar novos conhecimentos, compartilhar saberes, e implementar ideias através do trabalho com outros setores e diversas partes interessadas em políticas de saúde global. Com isso em mente, 60 think tanks de saúde global encontraram-se em Genebra em novembro de 2015 para explorar o papel destes e de instituições acadêmicas na implementação dos ODSs.
O que será preciso para atingir os ODSs relativos à Saúde?
Apesar de somente o ODS 3 focar primariamente em saúde, muitos outros objetivos do desenvolvimento, incluindo aqueles destinados a ambiente, nutrição, fome, produção e consumo sustentáveis, agricultura e educação, têm também grandes efeitos na saúde. Portanto, para alcançar o progresso na saúde humana os países terão que se comprometer com uma agenda ampla do desenvolvimento sustentável e explorar os elos entre os diferentes objetivos e metas. Isso fornece uma oportunidade para se explorarem abordagens sistêmicas: aplicando uma perspectiva ecológica e implementando uma agenda ambiciosa na qual a saúde é incluída em todas as políticas governamentais.
O desafio mais óbvio é assegurar a vontade política para identificar e se comprometer com os recursos financeiros adequados [ii] [iii] [iv]. Mas para garantir que esses compromissos levem à melhoria da saúde, três questões importantes deverão ser endereçadas: compartilhamento global de conhecimento, construção de capacidades e inovação. Agências da sociedade civil como os think tanks e instituições acadêmicas podem ser catalizadores críticos para acelerar a agenda dos ODSs junto a todos os níveis de governança.
Compartilhamento de conhecimento – Novos conhecimentos sobre determinantes da saúde, resposta a doenças, mitigação de problemas ambientais e implementação de programas e políticas de sucesso são gerados rapidamente. Entretanto, o conhecimento frequentemente se difunde muito lentamente. Por exemplo, mesmo terapias financeiramente accessíveis com potencial de salvar vidas podem demorar até uma década para serem amplamente adotadas [v]. Assegurar que o conhecimento seja tratado como bem público global e disseminado rapidamente, efetivamente e amplamente deve ser uma prioridade.
Construção de capacidades – Ainda que haja maior intercambio de conhecimentos, substanciais desafios à implementação dos ODS permanecem [vi]. Muitos países carecem de capacidade técnica para implementar programas apesar de saberem o que fazer. Os governos deverão engajar-se em parcerias com atores-chave para desenvolverem e implementarem políticas, e levarem o progresso ao longo do caminho. Dados confiáveis serão indispensáveis para assegurar responsabilidade.
Inovação – Mesmo com conhecimento e capacidade técnica, muitos países encontrarão dificuldades para alcançar os objetivos sem inovação e adaptação às suas realidades específicas. Os desafios incluem pensar como a cobertura universal em saúde pode acontecer em lugares com recursos limitados; explorar melhores formas de criar políticas intersetoriais para enfrentar as causas de doenças não transmissíveis; e atrelar o poder da tecnologia para melhorar a prestação de contas à sociedade. Não há limites ao número de inovações que podem ajudar as nações a acelerar a implementação dos ODSs.
Partes interessadas na Saúde Global e o papel dos think tanks e instituições acadêmicas
O encontro em Genebra concluiu que os think tanks e instituições acadêmicas da saúde global têm papel central em responder a algumas necessidades apontadas acima, especialmente em assegurar o efetivo compartilhamento de conhecimentos, assistência técnica para enfrentar desafios de implementação e a criação de estratégias inovadoras para se atingir melhor saúde.
Think tanks e instituições acadêmicas tem domínio próprio de expertise: o conhecimento. Eles ajudam a gerar, traduzir e disseminar conhecimento. Assim, têm a responsabilidade de ajudar a acelerar o processo dos ODSs a partir do foco em algumas dimensões: engajando-se no desenvolvimento de políticas mais amplas, medindo os resultados de políticas e identificando determinantes de sucesso, agindo como intermediários do conhecimento e dando voz à sociedade civil. Seu trabalho pode fornecer insumos indiretos a processos de alto nível, apoiar uma implementação mais efetiva dos objetivos e metas e contribuir para assegurar a prestação de contas, política necessária para se atingir os ODSs.
Finalmente, essas instituições podem catalisar a inovação em sistemas de atenção à saúde nacionais e globais. Alguns think tanks e instituições acadêmicas terão papel central na criação de inovações, enquanto outros focarão em medição, avaliação e disseminação. Novas ideias e soluções para problemas duradouros podem levar anos para serem filtrados pelas pessoas e pela sociedade, e os mais pobres e menos emancipados frequentemente são os últimos a serem beneficiados. Think tanks e instituições acadêmicas relevantes podem ajudar a diminuir esse gap e assegurar que inovações cheguem àqueles que necessitam delas mais rapidamente.
Os ODSs têm o potencial de mudar o jogo na saúde global – uma plataforma e um mecanismo para aprimorar em grande medida a saúde e o bem estar da população mundial. Mas se os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ou outros objetivos globais representam indicadores, o progresso inicial será lento. O custo desta lentidão poderá ser medido em vidas perdidas. Atingir os ODSs não será fácil. Think tanks e instituições acadêmicas podem direcionar a ação, começando por enfrentar a divisória Norte-Sul, que frequentemente impregna essas discussões, ao viabilizarem mais parcerias Sul-Sul e por se encontrarem além desses muros para tocarem a agenda adiante. Eles podem assegurar que as melhores ideias sejam amplamente disseminadas, não importando onde forem originadas. E por manterem entidades governamentais e multilaterais responsáveis, podem contribuir com a voz da sociedade civil.
O Graduate Institute, o International Development Reserarch Center, e o BMJ, em colaboração com outras instituições comprometidas com avanços na saúde pública global, estão lançando uma nova iniciativa par acelerar o alcance dos ODSs. Entre outras iniciativas, publicaremos uma série de artigos com esse tema e aceitaremos pesquisas e análises relevantes e originais para consideração. Estamos num momento crítico e emocionante da saúde global. Tendências ampliadas na globalização criaram tensões e desafios.
Os ODSs representam uma plataforma chave para capturar a energia e boa vontade que podem levar a uma mudança real. Acreditamos que os think tanks e instituições acadêmicas engajados com políticas de saúde global, ao servirem como agentes honestos do conhecimento e como vozes da sociedade, podem direcionar ações de modo a assegurar que coletivamente usemos este momento para melhorar a saúde da população do mundo (Tradução: Erica Kastrup, CEE-Fiocruz).
*Tradução livre do artigo Accelerating achievement of the sustainable development goals – A game changer in global health, de Ashish Jha, professor (Harvard Global Health Institute, Cambridge, MA 02138, USA); Ilona Kickbusch, director, Global Health Programme (Graduate Institute, Geneva, Switzerland); Peter Taylor, programme manager (Think Tank Initiative, International Development Research Centre, Ottawa, Ontario, Canada); Kamran Abbasi, international editor (The BMJ, London WC1H 9JR, UK), on behalf of the SDGs working group. Original disponível em: www.bmj.com/content/bmj/352/bmj.i409.full.pdf
[i] United Nations. Transforming our world: the 2030 agenda for sustainable development. 2015. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/21252030%20Agenda%20for%20Sustainable%20Development%20web.pdf
[ii] From billions to trillions: MDB contributions to financing for development. 2015. Disponível em: http://www.worldbank.org/mdgs/documents/FfD-MDB-Contributions-July-10-2015.pdf
[iii] Yamey G, Shretta R, Newton Binka F. The 2030 sustainable development goal for health. BMJ 2014;349:g5295.
[iv] Schmidt-Traub G, Sachs, JD. Financing sustainable development: implementing the SDGs through effective investment strategies and partnerships. 2014. Disponível emhttp://unsdsn.org/wp-content/uploads/2015/04/150619-SDSN-Financing-Sustainable-Development-Paper-FINAL-02.pdf
[v] World Health Organization. The stop TB strategy: building on and enhancing DOTS to meet the TB-related millennium development goals. 2006. Disponível em: http://www.who.int/tb/publications/2006/stop_tb_strategy.pdf
[vi] S Sarvajayakesavalu S. Addressing challenges of developing countries in implementing five priorities for sustainable development goals. Ecosystem Health Sustainability 2015;1:24.
Fonte: Acelerando o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Estratégicos Fiocruz; 23 Maio 2016. [acesso em 02 jun. 2016]. Disponível em: http://cee.fiocruz.br/?q=node/158
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