Mundialmente considerada um importante problema de saúde pública, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço da população mundial está infectada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis e, desses, 10% desenvolverá tuberculose (TB) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2014).
No Brasil, a TB possui profundas raízes sociais. As desigualdades e as condições de saúde da população continuam como agravantes. A cada ano, são notificados aproximadamente 73 mil casos novos e ocorrem 4,6 mil mortes. Embora o país tenha apresentado decréscimo na incidência da tuberculose e no número de casos novos por 100 mil habitantes, ainda restam desafios para a redução para ocorrência da doença (BRASIL, 2015).
Nesse contexto, apesar das relevantes implicações epidemiológicas, a tuberculose ainda necessita de medidas de prevenção, controle e da constante busca pelo acesso aos direitos sociais essenciais. Mesmo possuindo diagnóstico e tratamento acessíveis à população, os dados ainda são alarmantes. A OMS preconiza 85% de cura como impacto epidemiológico e que 100% dos contatos sejam examinados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2011). Para o controle da TB é fundamental interromper a cadeia de transmissão da doença. Cada doente não diagnosticado tende a infectar de 10 a 15 pessoas em um ano, sendo que uma ou duas adoecem, mantendo a transmissão e a doença em nível de endemia (CASTILHO, 1982).
A presença do M. tuberculosis no organismo, com ausência de manifestações clínicas, é definida como Infecção Latente da Tuberculose (ILTB) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2015). O Ministério da Saúde preconiza a investigação do ILTB nesses casos, com a finalidade de interromper a cadeia de transmissão e o início da quimioprofilaxia, quando necessário (BRASIL, 2015). Essa priorização da OMS ressalta o importante papel dos profissionais da Equipe Saúde da Família (ESF) no controle da tuberculose. Contribuindo na qualidade das ações e serviços de saúde, nas ações relacionadas ao Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), junto aos casos, aos indivíduos considerados contatos, além de proporcionar o esclarecimento e desmistificação da doença (BRASIL, 2015).
Recife, capital do estado de Pernambuco, cidade litorânea, é dividida política-administrativamente em regiões de saúde denominados Distritos Sanitários (DS). Desses, o DS II, composto por 18 bairros, possui elevada concentração populacional e precárias condições de vida. De janeiro a dezembro de 2015 foram registrados nesse Distrito, exclusivamente pelas Equipes de Saúde da Família, 486 indivíduos contatos de TB pulmonar, e desses, só 240 (39,6%) foram examinados (RECIFE, 2015).
Diante desse baixo número de indivíduos contatos examinados, objetivando compreender qual o conhecimento desses sobre a doença, e quais as possíveis causas, quanto à adesão ou não às medidas profiláticas à tuberculose, realizou-se um estudo com 140 contatos de TB. Os participantes, maiores de 10 anos, responderam a um questionário com perguntas referentes às características sociodemográficas e individuais, conhecimento sobre tuberculose, adesão às medidas profiláticas e ações do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT).
Os resultados apresentados por esse estudo, relativos à distribuição de pessoas por domicílio entrevistado no DS II, demonstraram que a maioria é do sexo feminino, com 18 e 39 anos, parda, possui entre 4 e 7 anos de estudos (51,4%), residem com 2 a 4 pessoas por domicílio, em casas entre 3 a 5 cômodos e renda familiar de 1 – 1,9 salários mínimos (47,8%).Quanto ao conhecimento sobre tuberculose, os entrevistados acreditam que a tuberculose é transmissível, que o maior meio de transmissão são os utensílios (48,6%) e 54% informaram que o seu conhecimento sobre tuberculose vem de amigos e familiares que já tiveram a doença.
Em relação à adesão às consultas para tratamento profilático de TB, mais da metade dos entrevistados afirmam que os profissionais de saúde não explicaram sobre tuberculose e que não compareceram à consulta por desconhecer a necessidade. A adesão às consultas na maior parte se deu por medo de pegar tuberculose e a radiografia de tórax foi o exame mais solicitado (75,4%).
Diante dos resultados obtidos e considerando a realidade dos contatos de TB faz-se necessário entender que a situação socioeconômica interfere de forma significativa na realização do tratamento da tuberculose, assim como a escolaridade, concepção sobre o processo saúde-doença, efeitos dos medicamentos tuberculostáticos, drogas lícitas e ilícitas.
Assim como acesso ao serviço de saúde e organização do processo de trabalho (RODRIGUES, 2010). A necessidade de identificar e compreender as barreiras relacionadas à adesão podem direcionar as intervenções (TRAJMAN, 2010). Evidenciando, inclusive, que a interpretação do processo saúde-doença é conduzida de acordo com o entendimento individual. A vivência do indivíduo junto à sociedade possibilita que o mesmo tenha diferentes atitudes. Bem como aderir a algo ou não. Diante das suas experiências, em uma perspectiva ativa frente às adversidades (BERTOLOZZI, 2009).
Nas ações e práticas referentes ao controle da TB, a sociedade civil necessita ser esclarecida sobre a doença, bem como, ser explicitada sua corresponsabilidade dentro de todo o contexto da tuberculose. Destaca-se que educação em saúde, orientações sobre prevenção da tuberculose são essenciais (CURTO, 2010). Dessa forma, haverá informação circulante, mais chances de adesão aos exames solicitados, aos possíveis tratamentos profiláticos e agentes multiplicadores sobre tuberculose dentro das comunidades.
Os contatos de TB do DS II desconhecem sobre a forma de transmissão da tuberculose, das necessidades de serem avaliados e da realização dos exames solicitados. Por estarem inseridos nas iniquidades sociais, muitas vezes, o empoderar possivelmente trará consigo indivíduos contatos mais conscientes quanto à TB, contribuindo para a detecção precoce dos casos, responsabilização, participação no processo e redução da incidência da tuberculose por interrupção na cadeia de transmissão da doença. A comunidade ter conhecimento sobre a TB influencia nos resultados e corrobora para eliminação da doença.
Referências
TEIXEIRA, A.Q. et al. Conhecimento sobre tuberculose e adesão às medidas profiláticas entre os indivíduos contatos em Recife/PE. Recife, 2016.
BERTOLOZZI, M. R. et al. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na Saúde Coletiva. Rev. Esc. Enferm., São Paulo, v. 43,n. 2, p. 1326-1330, 2009.
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
CASTILHO, G. R. et al. Epidemiologia de la tuberculosis. Rev. Méd. Hosp. Gen. Mex., Brasília, v. 45, n. 5/6, p. 164-1677, 1982.
CURTO, M. et al.Controle da tuberculose: percepção dos doentes sobre orientação a comunidade e participação comunitária. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 18, n. 5, p. 8, 2010.
FORRELAND, M. A. et al. Virulence factors of the Mycobacterium tuberculosis complex. Virulence, Buenos Aires, v. 4, n. 1, p. 3-66, 2013.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Global tuberculosis control: WHO report 2011. Geneva, 2011.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Global tuberculosis control: WHO report 2011. Geneva, 2014.
RECIFE. Secretaria de Saúde. Distritos Sanitários em Recife. Oito Distritos. Disponível em: <http://www2.recife.pe.gov.br/servico/estrutura-da-vigilancia-sanitaria>. Acesso em: 20 mar. 2015.
RODRIGUES, I. L. A. et al. Abandono do tratamento de tuberculose em co-infectados TB/HIV. Rev. Esc. Enferm., São Paulo, v. 44, n. 2, p. 383-387, jun 2010.
TRAJMAN, A. et al. Factors associated with treatment adherence in a randomised trial of latent tuberculosis infection treatment. Int. J. Tuberc. Lung. Dis., Paris, v. 14, n. 5, p. 551–559, May, 2010.
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