Epidemiologia e Determinantes Sociais das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil

Supremacia das DCNT acompanha o aumento da expectativa de vida / Imagem: Site do Ministério da Saúde

A importância de analisar a evolução das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no último século decorre da insuficiência de estudos que resgatem o caráter histórico das mudanças ocorridas na sociedade brasileira, as quais determinam os processos de transição demográfica e epidemiológica num contexto de relevantes desigualdades sociais. No campo do conhecimento, apesar do avanço dos métodos de análise baseados nos modelos epidemiológicos de associação entre riscos e problemas de saúde, surge a necessidade de um redirecionamento na busca de identificação e de comprovações mais consistentes dos determinantes sociais dessas enfermidades, a partir da construção de modelos conceituais integrativos que deem conta da complexidade dos seus níveis de determinação.

Os modelos lineares de explicação, como algumas teorias acerca da transição epidemiológica, bem como os que se propõem a explicar componentes específicos do processo de determinação (biologia humana e estilo de vida), mostram-se insuficientes para explicar a determinação das DCNT. Considerando o período correspondente ao século XX, adotamos uma matriz de determinação social como forma de apreender os contextos político, econômico e de ocupação do espaço urbano em diferentes níveis de determinação (macrodeterminações, microdeterminações e determinação individual/de grupos). Na análise temporal de mortalidade, estimamos modelos de regressão linear simples e consideramos os grupos das Doenças do Aparelho Circulatório (DAC), das Neoplasias Malignas e o Diabetes mellitus. Para estes, recuperamos séries temporais de mortalidade no período de 1950 a 2000 em capitais brasileiras.

Para Recife e São Paulo, construímos séries temporais de mortalidade no período de 1980 a 2002, por sexo, faixa etária, subgrupos e causas selecionadas de DCNT. Observamos, como consequência das transformações ocorridas no país no decorrer do século XX, que ocorre a passagem de um padrão “arcaico” de transição epidemiológica, em que as enfermidades crônicas não transmissíveis ainda não são reconhecidas como questões importantes do ponto de vista da saúde pública, para um padrão de “desigualdades”, no qual essas enfermidades assumem a supremacia no perfil de morbimortalidade da população.

A supremacia das DCNT acompanha o aumento da expectativa de vida e ocorre em meio a processos contraditórios, tais como períodos de aceleração e estagnação econômica, diferentes fluxos migratórios e urbanização sem precedentes, acompanhada do crescimento de periferias nas capitais do país, que se refletem em mudanças no modo de vida da população, com aquisição de novos hábitos. Nesse contexto, as capitais brasileiras que experimentam a urbanização e desenvolvimento mais precocemente instituem, também de forma precoce, as condições para o crescimento das DCNT.

A análise de tendência temporal das DCNT nas capitais brasileiras revela uma tendência de declínio da mortalidade por DAC, de leve crescimento/estabilidade para as neoplasias malignas e de aumento mais expressivo para o diabetes mellitus. As conclusões indicam a necessidade de ponderação acerca das possibilidades e limites das intervenções pontuais, de caráter conjuntural e compensatório, bem como a relevância de intervenções intersetoriais, integrais que visem a modificar as condições de vida do conjunto da população.

Tese completa 

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Saúde Pública do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz)
Orientador: Prof. dr. Eduardo Maia Freese de Carvalho
Co-orientador: Prof. dr. Wayner Vieira de Souza

Texto completo em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/3905

Referências Bibliográficas

Cesse EAP. Epidemiologia e determinantes sociais das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. Tese [Doutorado em Saúde Pública]. Recife: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz; 2007.

Cesse EAP, Carvalho EF, Souza WV, Luna CF. Tendência da mortalidade por diabetes melito no Brasil: 1950 a 2000. Arq Bras Endocrinol Metabol [periódico na internet]. 2009 [acesso em 18 fev 2013];53(6):760-6. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302009000600011&lng=en&nrm=iso&tlng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000600011.

Cesse EAP, Carvalho EF, Souza WV, Luna CF. Tendência da mortalidade por doenças do aparelho circulatório no Brasil: 1950 a 2000. Arq Bras Endocrinol Metabol [periódico na internet]. 2009 [acesso em 18 fev 2013];93(5):490-7. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2009001100009. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2009001100009.

Cesse EAP , Freese E. Características e determinantes do padrão brasileiro de ocorrências das DCNT no século XX. In: Freese E, organizador. Epidemiologia, políticas e determinantes das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE; 2006. p. 47-72.

Cesse EAP, Freese E, Souza WV, Luna CF. Tendências da mortalidade por DCNT no Brasil: expansão ou redução. In: Freese E, organizador. Epidemiologia, políticas e determinantes das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE; 2006. p. 73-88.

Entrevista com:

1 Comentário

  1. Legal, é bom que trabalhos dessa natureza venham a contribuir para o esclarecimento da população em geral.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*