O fortalecimento da agricultura familiar como forma de promover uma vida mais saudável foi o tema dos debates da tarde desta segunda-feira, 25, no I Fórum de Determinantes Sociais em Saúde do Oeste do Pará. Promovido pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém, o evento segue até quarta-feira, dia 27, no auditório da Unidade Tapajós da Ufopa, em Santarém. Além da agricultura familiar, estão em pauta projetos de desenvolvimento na Amazônia que impactam na saúde da população e o processo saúde-doença condicionado pela escassez de saneamento básico em Santarém e no Oeste do Pará.
Base da produção de alimentos na região, a agricultura familiar vem sendo ameaçada pela expansão dos grandes empreendimentos implantados no Oeste do Pará ao longo dos anos. É o que explica o professor Wilson Sabino, vice-diretor do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Ufopa: “Com a expansão desses grandes projetos, há uma tendência à diminuição da agricultura familiar. Isso significa esses trabalhadores rurais ficarem sem trabalho, sem renda e, consequentemente, sem boa alimentação, o que pode acabar levando à doença”.
Segundo Sabino, essa situação exemplifica as determinantes sociais em saúde, que são as injustiças sociais que acabam determinando o processo de saúde-doença. “Não ver a iniquidade é não conseguir combater com políticas públicas mais específicas essas desigualdades sociais. A nossa população ribeirinha, as populações quilombolas e indígenas, por exemplo, será que essas comunidades são tratadas da mesma forma que as outras? Não existe uma iniquidade nesse processo em que as pessoas acabam adoecendo, sem uma assistência à qual elas têm direito?”, questiona o professor.
Para a secretária de Políticas Públicas do STTR de Santarém, Gracivane Moura, já é possível observar em Santarém e nos municípios vizinhos o reflexo dos grandes empreendimentos. É o caso, por exemplo, da monocultura da soja e do uso indiscriminado de agrotóxicos, que acabam contaminando o lençol freático. “Já há pesquisas que comprovam a presença de resíduos de agrotóxicos nas águas de igarapés de cinco comunidades do planalto santareno. E a população consome essa água! A médio e longo prazo, isso pode acabar gerando doenças relacionadas ao uso dessa água. Por isso queremos discutir o saneamento básico, porque a falta de estrutura afeta diretamente nossa saúde”, destaca a secretária.
Gracivane também relaciona as mudanças climáticas como uma das principais dificuldades para o fortalecimento da agricultura familiar. “Nossos agricultores estão sendo muito prejudicados por conta da estiagem que o fenômeno El Niño trouxe. Há uma grande escassez de produtos esse ano. A produção de frutas e da própria farinha de mandioca ficou muito abaixo do esperado. O que está nos abastecendo no momento é a produção da região de várzea, que não foi tão prejudicada. Então queremos trabalhar com os produtores a implantação de projetos de irrigação, para termos uma produção de qualidade que chegue à mesa das pessoas”, ressalta.
Grandes Projetos – Além dos impactos da monocultura da soja, o fórum pretende compreender outros grandes projetos instalados na região, como as mineradoras, as hidrelétricas e os portos. “Acho que Altamira é uma lição a ser aprendida por todos nós. A cidade hoje tem altos índices de violência e de doenças sexualmente transmissíveis, tudo que vem no bojo do processo de implantação de uma hidrelétrica. A população local dobrou de tamanho, mas os equipamentos de saúde e de suporte social não cresceram na mesma proporção”, avalia o professor da Ufopa.
“É isso que queremos discutir com toda a sociedade santarena e do Oeste do Pará. O desenvolvimento é necessário sim, mas a que preço? O que esse desenvolvimento pode trazer de benefícios para a população regional? Nós sabemos que a maior parte dessas riquezas geradas não fica em nossa região, mas somos nós que arcamos com os custos”, enfatiza Sabino. Gracivane complementa: “Podemos ver os inúmeros prejuízos que essas atividades trazem para nossa saúde. Esse desenvolvimento é para quem?”.
De acordo com os organizadores do fórum, as discussões realizadas durante o evento são uma forma de reação aos grandes projetos presentes na região. Na tarde do dia 27 está prevista a realização de uma audiência pública com a participação de representantes da Prefeitura de Santarém e dos Ministérios Públicos Federal (MPF) e do Estado do Pará (MPE). Ao final, espera-se apresentar e aprovar a Carta de Santarém, sobre determinantes sociais em saúde e os impactos causados pelos grandes projetos na região. O documento deverá ser encaminhado ao Ministério da Saúde, ao Ministério Público Federal, às prefeituras dos municípios da região Oeste do Pará e ao governo do estado do Pará. “É um documento com demandas, que servirá de evidência para que as autoridades competentes possam tomar as ações necessárias”, conclui Sabino.
Leia a íntegra da CARTA DE SANTARÉM
*Foto da home: Renata Dantas – Comunicação/Ufopa
Fonte: Dantas R. Fórum trata de questões que impactam saúde da população do Oeste do Pará. Santarém, Pará: Ufopa; 25 Abr 2016. [acesso em 28 abr 2016]. Disponível em: http://www.ufopa.edu.br/noticias/2016/abril/forum-trata-de-questoes-que-impactam-saude-da-populacao-do-oeste-do-para
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