Projeto internacional lança materiais de apoio para docentes com participação de Manuel Bonduki, professor do Insper. Escola também oferece trilha de cursos na área de inovação e transformação digital no setor público.
O programa Teaching Public Service in the Digital Age lançou em abril uma série de materiais de apoio ao ensino de Governo Digital. A iniciativa internacional foi desenvolvida por professores de diferentes instituições, entre eles Manuel Bonduki, professor do Insper e autor dos livros Ciências Comportamentais e Políticas Públicas e Ciclo de Vida dos Laboratórios de Inovação Pública.
Nesta entrevista, Manuel explica a importância do aprendizado em inovação e transformação digital para a gestão pública:
Por que essa temática é importante?
O mundo como o conhecemos está se transformando de forma muito acelerada e as sociedades precisam estar prontas para a mudança. Isso fica claro quando percebemos o impacto e a rapidez com que todos os países tiveram que se adaptar durante a pandemia e as consequências dos governos incapazes de serem flexíveis e organizados diante do imprevisto. A transformação digital trará mudanças muito mais profundas e permanentes do que trouxe a pandemia e precisamos ser capazes de formar servidores públicos que entendam como essa realidade muda não apenas o que os governos devem fazer mas principalmente como também a sociedade e suas necessidades. A pandemia foi um aperitivo amargo, mas as mudanças climáticas e a transformação digital vão exigir muito mais capacidade de adaptação constante e, portanto, de inovação.
Como funciona o projeto?
O projeto é liderado pelo David Eaves, da Harvard Kennedy School, e reúne professores da área de governo digital de outros 10 países. Os desafios da transformação digital são em grande medida globais, como garantir o uso de dados em políticas públicas protegendo a privacidade, ou criar serviços digitais sem aprofundar a exclusão de quem não sabe ou não pode usar a internet. Então, buscamos oferecer uma ementa básica a todos os professores que estejam ensinando transformação digital em governos. A ementa tem materiais, leituras, filmes e também propostas de como abordar os temas em sala de aula.
Como você acredita que essa formação deva acontecer no contexto brasileiro?
Apesar de a transformação digital ser um fenômeno global, há desafios específicos de cada realidade. No Brasil, políticas públicas que sejam informadas por dados, testadas em pequena escala antes de serem nacionalizadas, por exemplo, ainda são bem menos frequentes do que deveriam. Veja-se que o governo federal cogita a possibilidade de cancelar o próprio Censo. Então, em nossos alunos, a capacidade de lidar com os dados disponíveis e utilizá-los para melhorar políticas e serviços é ainda mais fundamental.
Mas há um consenso quando se fala em serviços digitais que a exclusão digital é um fenômeno central. Empresas podem escolher qual público vão atender, mas governos não. Por isso, precisamos ensinar aos alunos como fazer uma transformação digital que não reforce exclusões e isso envolve entender as pessoas e suas necessidades. Não se pode exigir um aplicativo para receber auxílio emergencial, por exemplo.
Além disso, o Brasil tem um conjunto de servidores públicos com grandes disparidades entre si, especialmente quando se pensa na diferença entre os municípios, que entregam as principais políticas diretamente ao cidadão, e o Governo Federal, que deveria ser capaz de apoiar e orquestrar o processo. Então, as capacidades digitais em um contexto de federação mudam de acordo com o nível de governo. Não adianta pensar apenas na formação de servidores em países unitários, como a Inglaterra ou a Estônia.
Trilha de cursos de inovação no setor público
O Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper oferece uma série de cursos para apoiar servidores do setor público, privado e terceiro setor a conduzir inovações que melhorem a qualidade da gestão e das políticas públicas pelo Brasil. O professor Manuel Bonduki participou ativamente da concepção e desenvolvimento da trilha, sendo também docente líder dos cursos, que possuem política de bolsas parciais ou integrais, concedidas de acordo com critérios como necessidade, aderência ao perfil do curso e possibilidade de aplicação e impacto.
Conheça cada um dos cursos:
Acelerando a transformação digital no setor público
Neste curso, os estudantes partem de um panorama das tecnologias e artefatos da transformação digital e seus impactos na sociedade e Estado para construir uma visão sistêmica das oportunidades e desafios para os governos. Discutimos a gestão da mudança e o papel das lideranças na transformação, compras públicas de inovação, habilitadores da transformação digital e como usar os dados para tomar melhores decisões respeitando a segurança e privacidade dos cidadãos. O curso já teve apoio da Aliança pela Inovação e atualmente conta com o apoio do BID Lab.
Inovação e transformação do setor público: desafios para uma prática disruptiva
Desenvolvido em parceria com a Fundação BRAVA, o curso foi criado com o intuito de apoiar gestores públicos, privados e do 3º setor a responderem essencialmente cinco perguntas: Por que é importante falarmos de Inovação e Transformação Digital no Setor Público? O que é Inovação, ou quais as formas ela pode tomar no Setor Público, sejam elas ligadas a novos serviços ou novas formas de oferecê-los e geri-los? Como é possível inovar e superar os desafios existentes no desenho e implementação desses serviços, em especial nas dimensões de cultura, processos, tecnologia e legislação? Quanto se consegue impactar com a mudança e como mensurar esse impacto? Quem são os atores-chave da transformação, e como garantir seu envolvimento?
Ciências Comportamentais, Nudges e Políticas Públicas
Neste curso, os participantes têm contato com as principais teorias que dão base à abordagem das ciências comportamentais, assim como com um ferramental prático e aplicado. É uma introdução compacta porém profunda sobre como aplicar ciências comportamentais em situações concretas, permeada pela apresentação e discussão de casos de aplicação de ‘nudges’ no Brasil, Europa e África.
Por Insper . 20/04/2021
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