Para relativizar os resultados da cidade do Rio de Janeiro, apresentados anteriormente em nosso Observatório, Alcides Carneiro e colaboradores do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP/ Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro) apresentaram também alguns indicadores trabalhados pelo VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico do Ministério da Saúde), para os anos de 2006 e 2010, de algumas capitais estaduais e para o total do país. As cidades selecionadas foram: Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, São Paulo e Distrito Federal, seguindo o critério de porte populacional e a representação de capitais de todas as regiões do Brasil.
No que diz respeito ao tabagismo, a cidade do Rio de Janeiro apresentou junto com Salvador as menores prevalências de tabagismo, ficando abaixo da estimativa nacional (15,1% em 2010). Por outro lado, a prevalência de tabagismo em Porto Alegre e São Paulo foi maior do que a observada para o país (aproximadamente 19,5% em 2010). Entre 2006 e 2010, as capitais de São Paulo, Belém e Belo Horizonte, apresentaram um aumento na proporção de fumantes, passando de 19%, 15% e 16% para 19,6%, 15,2% e 17%, respectivamente.
O Distrito Federal se destacou como a cidade com maior queda de fumantes no mesmo período (redução de 20%). Apesar de ter apresentado a menor frequência de tabagismo em 2010, os cariocas foram os que apresentam a maior proporção de fumantes de 20 ou mais cigarros por dia, perdendo somente para Porto Alegre e São Paulo. Segundo os autores, a proporção de ex-fumantes na cidade do Rio de Janeiro decaiu entre 2006 (25%) e 2010 (22%). Esse mesmo perfil foi observado em Belém, mas a proporção nacional de ex-fumantes ficou praticamente inalterada entre 2006 e 2010.Os indicadores do VIGITEL apontaram que o excesso de peso cresceu entre 2006 e 2010 no Brasil. Apesar do Rio de Janeiro (53%) e Porto Alegre (51%) terem tido as menores variações deste indicador nesse período, essas capitais ainda apresentam as maiores prevalências de excesso de peso. A prevalência de obesidade cresceu 30% no país, sendo que Belo Horizonte, Recife e São Paulo foram as capitais que mais expandiram a proporção de pessoas obesas.
Em relação ao padrão de consumo de frutas e sucos de frutas de cinco ou mais dias por semana, houve crescimento em todas as capitais selecionadas entre 2006 e 2010. As capitais que apresentaram maior consumo foram Recife, Salvador e Distrito Federal, cidades que já exibiam resultados acima da média nacional. As cidades de Recife, Belém e Salvador foram destaque no consumo de frutas. O Rio de Janeiro, mesmo aumentando seu consumo, apresentou o pior desempenho entre as capitais selecionadas. Houve uma redução no consumo de hortaliças em nível nacional de cerca de 20%, especialmente nas cidades de Belém e Salvador, que já apresentavam em 2006 os piores resultados. No Rio de Janeiro, o consumo de hortaliças também está abaixo da média nacional. No Brasil, o hábito de ingerir refrigerantes cresceu francamente entre 2006 e 2010 (80%), passando a média de consumo nacional de 15% para 28%. Entre as capitais, Belém foi a que menos cresceu (25%), e Rio de Janeiro dobrou o consumo no período estudado e desponta como o 2º maior consumidor de refrigerantes e sucos artificiais entre as capitais estudadas.
A prática de atividade física suficiente no lazer foi estável no país durante o período observado, sendo referida por 15% dos entrevistados em 2010. Enquanto em Belém, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro a prática de atividade física suficiente no lazer decresceu discretamente no período, em Salvador (4%), no Distrito Federal (5%) e em São Paulo (29%) ela aumentou. A inatividade física cresceu 8% em média entre 2006 e 2010 no Brasil, sendo maior no Distrito Federal, Belém, Salvador e Recife. No Rio de Janeiro, o crescimento foi muito discreto (3%), ficando semelhante à média nacional.
Alcides Carneiro e colaboradores explicam que o tabagismo, o sedentarismo, o excesso de peso e a obesidade são fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). No entanto, os parâmetros recomendados pela Organização Mundial da Saúde através da Estratégia Global para Alimentação, Atividade Física e Saúde, na 57ª Assembleia Mundial de Saúde (Resolução WHA57. 17 – OMS 2004) para hábitos saudáveis, como uma alimentação mais balanceada com aporte de frutas, legumes e verduras, ainda estão longe de serem atingidos em todas as capitais avaliadas. Segundo a OMS, é possível aprimorar os rótulos dos produtos para permitir que os consumidores sejam mais bem informados sobre os benefícios e conteúdo dos alimentos, além de serem tomadas medidas para minimizar o impacto do marketing sobre hábitos alimentares não saudáveis. Informações mais completas sobre os padrões de consumo saudáveis, incluindo medidas para aumentar o consumo de frutas e legumes, e padrões de produção e processamento sobre a qualidade nutricional e segurança dos produtos, são exemplos de medidas que devem ter o envolvimento de governos e organizações não-governamentais.
Observa-se a evolução positiva de alguns indicadores, como o aumento do consumo recomendado de frutas e hortaliças, redução do tabagismo, diminuição do consumo de carnes com gordura visível. No entanto, por outro lado, aumentou o consumo de refrigerantes, a obesidade e o consumo abusivo de álcool. O consumo abusivo de álcool cresceu no país (11%) em proporções semelhantes ao que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro entre 2006 e 2010. As cidades com maior crescimento do uso abusivo de álcool foram Belém (23%), São Paulo (19%) e Recife (17%), sendo que as maiores frequências desse hábito foram encontradas em Recife e Salvador.
Através das informações produzidas pelo VIGITEL é possível reconhecer que mudanças de hábito e estilo de vida são lentas, pois são associadas a questões que estão para além do comportamento dos indivíduos, relatam os autores, que explicam que atualmente a vida social e econômica parece se organizar em um sentido contrário aos comportamentos que promovem saúde. Destacam-se como importantes componentes desse complexo grupo de fatores de riso para morbi-mortalidade e incapacidades relacionadas às doenças crônicas a oferta de alimentos industrializados e processados, e a maior facilidade na compra de automóveis. Essa última, induzida pela ideia de prazer e conforto dos automóveis que são vendidos como símbolo de status e sucesso.
Para Alcides Carneiro e colaboradores, a equalização entre a oferta e a busca por hábitos mais saudáveis, como cozinhar sua própria comida, pagar uma academia e frequentá-la ou ter tempo para praticar atividade física ao ar livre, não fumar, ingerir menos bebidas alcoólicas, além do acesso a alimentos de qualidade com baixo custo, é um desafio da sociedade atual, que deve estar inexoravelmente associado às políticas públicas de promoção de saúde e a uma abordagem verdadeiramente multisetorial.
*Imagem da Home: Ministério da Saúde
Referências Bibliográficas
Carneiro A, Espias SF, Iozzi R. Análise dos fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico e a trajetória da integração do conceito de hábitos saudáveis no âmbito da política pública de saúde no município do Rio de Janeiro. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP/ Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro). [acesso em 16 jan 2013]. Disponível em: https://dssbr.ensp.fiocruz.br/wp-content/uploads/2013/01/VIGITEL-RIO-v4a-alcides.pdf
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2010: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2011 [acesso em 16 jan 2013]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_2010.pdf
World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Fifty-seventh World Health Assembly. 2004 [acesso em 16 jan 2013]. Disponível em: http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA57/A57_R17-en.pdf
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