Criado em 2007, através de uma parceria com a Petrobras, que financia os estudos, o projeto do Plano de Monitoramento Epidemiológico da Área de Influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) pesquisa as condições de vida e saúde na região, sob a orientação dos pesquisadores Luciano Toledo e Paulo Sabroza, do Laboratório de Monitoramento Epidemiológico (LabMep) da ENSP. Os estudos têm seus resultados como importante alicerce na estruturação de medidas de promoção da saúde, prevenção de agravos e contenção dos mesmos no âmbito local.
A iniciativa teve início com um estudo preliminar sobre a situação de saúde naquela região e, em seguida, já com a parceria firmada com a Petrobras, estruturou uma ampla e rica base de dados, que resultou em cinco importantes relatórios, na ação sobre problemas persistentes na região, e sobre aqueles que por interferência no processo de urbanização se potencializaram. Para que isto ocorresse contou com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, das Secretarias Municipais de Saúde, do DATASUS e do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Através do projeto surgiu também a parceria que resultou na Metodologia de Monitoramento de Situação de Saúde em Itaboraí, desenvolvida pelo pesquisador Pedro Alves Filho, do Centro de Estudos Políticas e Informação sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CEPI/DSS).
O estudo do LabMep buscou identificar os principais problemas de saúde e verificar mudanças que estivessem acontecendo nestes processos de urbanização e que precisassem de algum grau de intervenção dos gestores, principalmente através dos sistemas de saúde da região. “Nossas pesquisas buscam informações que possam especificar problemas em uma área que está sofrendo grandes transformações socioambientais, por conta deste grande projeto que é o Complexo Petroquímico e ainda, indicar ações que possam contê-los. Algumas mudanças observadas naquela região, em termos de problemas de saúde, foram em relação à transmissão de dengue, já que tivemos um agravamento importante com vários anos epidêmicos da doença”, diz Paulo Sabroza. O estudo inicialmente trabalhou com três municípios: Itaboraí, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e em seguida incluiu o distrito de Monjolos, parte de São Gonçalo.
Sobre a importância de conhecer a situação das áreas de vulnerabilidade social na área de instalação do complexo, o pesquisador ressaltou que regionalizar a pesquisa ajuda a conhecer a concentração dos problemas locais. “Sabemos que a desigualdade se dá em todos os níveis. Assim, buscamos identificar não só os indicadores no nível dos municípios. A ideia é analisar mais exatamente as mudanças que vão acontecer, mas também a questão das obras, do deslocamento, o local onde as pessoas estão indo residir”, comenta. Outro objetivo do projeto é aumentar a capacidade dos serviços de saúde, particularmente da vigilância epidemiológica, da vigilância ambiental, da atenção básica e do Programa de Saúde da Família nas diferentes áreas onde existirem transformações e impactos. Segundo Sabroza, a ideia é que isto seja feito através de programas de capacitação, elaborados em conjunto com instituições municipais, através de assessorias. “Esta é a base da proposta: a identificação de problemas que precisam ser de alguma forma equacionados e a capacitação e empoderamento dos sistemas de saúde municipais, na parte de vigilância e de redução de problemas que podem ser controlados”.
Encontramos a persistência de alguns outros problemas com magnitude muito elevada. Destacaríamos a hanseníase, no município de Guapimirim, a mortalidade por doenças cardiovasculares, a tuberculose e os níveis de hospitalização altos por problemas como doenças respiratórias. Não observamos aumento, mas, desde o começo, a ocorrência e permanência destes tipos de problema de saúde. No entanto, há agravos que apresentaram redução. Destacadamente: as mortes infantis, mortes maternas e internações decorrentes da desnutrição”, destacou ele.
Para Sabroza, o estudo tem também um forte papel de aglutinador de esforços em torno da tomada de decisões e da promoção da participação social. “Temos dois principais objetivos. Um é identificar problemas e ainda, possibilitar que diferentes atores sociais envolvidos, desde a Petrobras, até as comunidades, conselhos e prefeituras possam acompanhar e discutir as situações, de modo que os problemas possam ter uma solução encaminhada e uma resposta oportuna. Tivemos a redução do impacto por exemplo, nos acidentes de trânsito. Com a discussão e a problematização desse aumento foram tomadas medidas e houve redução”. Ele destaca que outras medidas se relacionam com o aumento da poluição do ar, durante o deslocamento de equipamentos, das máquinas, caminhões das obras. Neste caso também se conseguiu agir a respeito.
Um outro exemplo citado pelo pesquisador foi a meningite. “Quando começaram a aparecer casos de meningite, o levantamento precoce da informação viabilizou que o município, no caso Itaboraí, fizesse um bloqueio, contendo a progressão da epidemia”, lembrou Sabroza. “Este é um dos objetivos de se trabalhar com os problemas neste cenário. A pauta tem finalidade de identificar problemas que estão aumentando, mas também os que persistem, de forma que os diversos atores sociais, não apenas os gestores, possam participar da sua solução”, concluiu.
Referência Bibliográfica
Pimentel J. Projeto desenvolve metodologia de monitoramento de situação de saúde em Itaboraí [Internet]. Rio de Janeiro: Portal DSS Brasil; 2014 Out 30 [acesso em 05 maio 2015]. Disponível em: https://dssbr.ensp.fiocruz.br/projeto-desenvolve-metodologia-de-monitoramento-de-situacao-de-saude-em-itaborai/
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