A CMDSS aconteceu num momento importante do mundo em que a crise financeira assola muitos países

O Sr. considera que a CMDSS alcançou seu objetivo de avançar na definição de estratégias de combate às iniquidades em saúde por meio da ação sobre os DSS? O que mereceria destaque nesse sentido?

A Conferência recoloca o tema dos DSS na agenda da OMS, da OPAS, de Ministérios de Saúde de alguns governos, de alguns outros setores de governos e de algumas organizações sociais e populares. A CMDSS não foi capaz de ganhar espaços significativos nos meios de comunicação e em outros setores de governo e da academia para além do setor saúde. Entretanto, “1000 pessoas juntas de 125 países” numa tenda única, não deixou de ser uma tribo potente para manter a chama viva e estendê-la para outras tribos e outras tendas. Embora há indícios de discordâncias entre os membros da tribo, pela apresentação de quatro declarações, quase todos ainda se identificam com a declaração do Informe Final da CDSS de que a “injustiça social no mundo contribui para matar pessoas em larga escala”. A CMDSS aconteceu num momento importante do mundo em que a crise financeira assola muitos países e foi bastante relevante o debate sobre modos distintos de enfrentar a crise e propiciou a possibilidade de formularmos durante a Conferência a pergunta de “porque os estados nacionais devem pagar por uma crise produzida por investidores privados”. Nós brasileiros sabemos bem “onde o nosso calo aperta”, mas foi bastante importante ser saudado por muitos, como um país que optou por caminhos distintos no enfrentamento da crise, tentando não perder de vista o caráter inclusivo das nossas políticas sociais e econômicas.

Que providências de curto e médio prazo os países membros deveriam adotar para por em prática os compromissos assumidos nesta Conferência?

Primeiro, operar possibilidades concretas (folhetos, cartas, boletins, encontros, vídeos, etc.) para disseminar o evento entre seus pares de uma maneira mais ampla, e isto não pressupõe dar destaque apenas à Declaração Política do Rio, mas também às declarações alternativas; segundo (mas, simultaneamente com o primeiro passo) ampliar disseminação e debate para outros setores e outras áreas de conhecimento nas academias, nos governos e com as organizações sociais e populares. Além disso, criar modos de coletar, acompanhar, avaliar e disseminar experiências/casos em andamento ou novos que explicitamente, ou implicitamente, adotem dispositivos relacionados com as cinco áreas do Documento Técnico da Conferência (governança, protagonismo, métricas, papel do sistema de saúde, agenda global).

Quais as principais mudanças nas atividades de cooperação técnica deveriam ser adotadas pela OMS e outros organismos internacionais para apoiar os países na implantação de planos e programas nacionais de combate às iniquidades em saúde?

Creio que a OPAS se adiantou nesse caminho ao apresentar em uma das sessões paralelas da Conferência uma proposta de cooperação técnica que a luz da Cúpula da ONU de DCNT (setembro 2011), da CMDSS (outubro 2011) e da RIO +20 (2012) pretende organizar suas atividades de cooperação técnica de um modo mais integrado, uma vez que estas três agendas possuem princípios, valores e diretrizes muito próximas. Resta-nos, também, pensar como a agenda dos ODMs (2015), da APS (“mais necessária que nunca”), da Promoção da Saúde (8ª Global Conference in Health Promotion – Helsinque, 2013; Conferência Mundial de Promoção da Saúde da UIPES, Bangkoc, 2013) e da “investigação em saúde” (Global Forum for Health Research – Cidade do Cabo, 2012) se agregariam a este processo integrado de cooperação técnica.

Que outros aspectos você gostaria de analisar?

Após a Conferência, fui andar na praia e me encontrei com Michael Marmot que estava “delighted” com os resultados. Ao mesmo tempo, “a little upset” porque, segundo ele, tentou-se fazer desta Conferência um espaço para promover Alma Ata e a “Ottawa Charter” e não como um “achievement” da CDSS. Como tenho carinho e alguma intimidade com Michael lhe disse: “Michael don’t be upset, everything started with Rudolf Virchow, the CSDH is only part of this knowledge history line!”.

Penso que por uma questão de honestidade intelectual, esta linha da história precisa ser recuperada, (agregando. inclusive, outras agendas e teorias) conectada e divulgada. É injusto dizer que qualquer uma destas agendas prévias à CDSS e à CMDSS estaria condenada a ser atirada na lixeira da história!

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