No dia 23 de julho a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) promoveu um debate no Centro de Estudos Miguel Murat com o tema Trabalho em Saúde: políticas públicas, desigualdade e relações de trabalho. O evento foi coordenado por Nilson do Rosário Costa, responsável pelo programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP e pela pesquisadora da Escola, Maria Inês Carsalade Martins.
Ana Paula Marques, chefe do Departamento de Sociologia da Universidade de Minho, em Portugal, apresentou o estudo Saberes, Autonomias e Reflexividades: O trabalho profissional no Terceiro Sector, realizado em seu país, que observou as transformações dos perfis de emprego e profissionalização de graduados em Ciências Sociais e Humanas no 3º setor. Ela citou o quão fragilizados estes vínculos podem ser e falou sobre a interferência deste tipo de situação na vida dos trabalhadores. “Algumas políticas públicas traduzem uma flexibilização e uma posição diferenciada, desigual, para alguns trabalhadores”, comentou, lembrando que o afrouxamento dos vínculos com as empresas empodera alguns e fragiliza outros. De acordo com a pesquisadora, há uma parcela significativa da população em situação de emprego instável. Além disso, muitos também vivem uma condição onde há um ritmo de trabalho intensificado.“É sabido que muitos trabalham bem mais que as 40 horas estabelecidas”, citou. Ana também comentou a escolha por determinada área do mercado para a pesquisa. “Optamos por analisar tais organizações porque, internamente, são exemplos de transformações, o que legitima a pesquisa do ponto de vista das mudanças e adaptações interprofissionais”.
Ana Paula citou ainda as condições de desigualdade entre algumas profissões que não recebem o mesmo reconhecimento do mercado que outras. Ela deu o exemplo dos educadores sociais e lembrou que é necessário regular, proteger e organizar o mercado e as instituições para que se possa promover a igualdade de direitos.
Em seguida, Kátia Medeiros, diretora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, deu o exemplo das Organizações Sociais para lembrar como são diferentes os vínculos estabelecidos no mercado de saúde. Kátia ressaltou que, de 2004 até 2006, fóruns de debates problematizaram a Lei de Responsabilidade Fiscal sob a ótica da precarização das relações de trabalho, o que, segundo ela, ultrapassa a área de atenção básica. “Os trabalhadores da área de saúde não estão nas mesmas condições de flexibilidade. O estado não verifica como estão as respostas às demandas na política de saúde. É necessário que se pense na estrutura heterogênea, na inadequação dos perfis, nas peculiaridades regionais”, destacou. Para Kátia as profissões que estão em um nível maior de organização e possuem mais regulação, estão menos sujeitas à instabilidade.
Isabela Pinto, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE), ressaltou a importância do debate acerca das relações de trabalho e da pesquisa sobre esta temática. Ela citou a relação entre a saúde dos trabalhadores e as condições às quais estão submetidos. “Temos que analisar o adoecimento dos trabalhadores frente às condições com as quais ele se depara. Avançamos nos conceitos, mas na prática ainda precisamos problematizar e fazer mudanças necessárias”. O intercâmbio de informações e a regulação também foram citados como fundamentais por Isabela. “Não há como as profissões se fecharem dentro delas mesmas”.
Todas as palestras estão disponíveis, no canal de vídeos da ENSP no YouTube.
Referências Bibliográficas
Ceensp: Trabalho em saúde – Ana Paula Marques (1/3) [vídeo]. [acesso em 06 jul 2014]. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=d2Kob4wBn7k
Ceensp: Trabalho em saúde – Kátia Medeiros (2/3) [vídeo]. [acesso em jul 2014]. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=UANXp6u5-3w
Ceensp: Trabalho em saúde – Isabela Cardoso Pinto (3/3) [vídeo]. [acesso em jul 2014]. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=wIEF4NWf6mM
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