Diabetes e escolaridade: pesquisas revelam diferenças nos números sobre a doença entre grupos com mais e menos anos de estudo

Taxa de mortalidade de acordo com anos de escolaridade na população com 15 anos ou mais: Observatório sobre Iniquidades em Saúde

 

Indicador do Observatório sobre este tema:
ind020208

A perspectiva de melhora real nos indicadores sobre Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) é uma preocupação global. Recentemente o tema ganhou destaque na Conferência Mundial sobre os Determinantes Sociais da Saúde, realizada em 2011 e no Documento Final da Conferência Rio +20, ocorrida em junho do ano passado. As DCNT apresentam marcadas diferenças no que se refere a sua prevalência e mortalidade segundo indicadores de estratificação econômico-social como a escolaridade.

De acordo com dados do indicador Ind020208 do Observatório sobre Iniquidades em Saúde de nosso portal, em 2009, no Brasil como um todo, ocorreram 108,8 óbitos por diabetes para cada 100 mil habitantes na população com zero e três anos de escolaridade. É interessante notar que este mesmo dado para 2001 revelava uma taxa de 68,1/100 mil, ou seja, neste período houve um aumento de cerca de 60%. Já para a população com oito ou mais anos de escolaridade essa taxa de mortalidade por diabetes em 2009 foi de 9,5, ou seja, a diferença entre ambos os grupos definidos segundo a escolaridade é de mais de dez vezes. Para essa população com oito ou mais anos de escola a taxa em 2001 era de 8,8, mostrando um aumento de cerca de 8% no período, ou seja, nesse grupo de maior escolaridade, ao contrário do que ocorreu com o grupo de menor escolaridade, o aumento da taxa de mortalidade no período foi relativamente pouco significativo. Além dos dois extremos assinalados, observa-se um marcado gradiente nessa taxa de mortalidade para diabetes de acordo com a escolaridade. Assim, aqueles com quatro a sete anos de estudo possuem uma taxa de mortalidade por diabetes em 2009 de 37,5, ou seja, quatro vezes maior que o grupo com oito anos ou mais de estudo e três vezes menor que a taxa do grupo com menos de três anos de estudo.

A taxa média total de óbitos causados por diabetes para cada 100 mil habitantes no Brasil em 2009, foi de 28,7, o que mostra claramente mais uma vez como as médias escondem grandes iniquidades. É também importante destacar que as grandes diferenças observadas são causadas por vários tipos de DSS, entre eles o acesso e qualidade dos serviços de saúde, pois a mortalidade por diabetes está também claramente relacionada com o controle inadequado da enfermidade.

Segundo resultados da pesquisa VIGITEL 2011, realizada por telefone em 26 capitais do Brasil e do Distrito Federal, a porcentagem de pessoas com diagnóstico de diabetes na população analisada (pessoas maiores de 18 anos), foi de 5,6% no total (homens e mulheres). Entre os homens, especificamente, o percentual atingiu 5,2% e na população de mulheres 6,0%. Ainda segundo a pesquisa, a porcentagem de pessoas com diabetes difere significativamente quando analisado o indicador de escolaridade. Na população que possui até oito anos de estudo, o percentual de diabéticos é de 7,5%. Entre os que têm entre nove e 11 anos de estudo, esta porcentagem cai para cerca da metade, alcançando 3,3% e na população que com 12 ou mais anos de estudo, o diabetes atinge em média 3,7%.

A pesquisa revelou ainda que Fortaleza e Vitória são as capitais brasileiras com maior prevalência, tendo registro de diabetes em 7% de sua população. A análise aponta ainda que apenas no ano de 2010 ocorreram 148.452 internações por conta de complicações ligadas à doença, representando um gasto de R$ 87,9 milhões. O estudo indica que em 2010 o diabetes foi responsável por 28,8 óbitos por cada 100 mil habitantes.

O controle da alimentação e do peso são cruciais para a manutenção da qualidade de vida e da saúde dos portadores da doença, tanto do tipo 1, quanto do tipo 2, visto que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco e devem ser controlados. O estudo multicêntrico de Diabetes Tipo 1 no Brasil, coordenado pela endocrinologista Marilia de Brito Gomes, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz, da Sociedade Brasileira de Diabetes e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro observou dois mil pacientes atendidos na rede pública entre 2008 e 2010. Os resultados tem como base dados de prontuário, entrevista com familiares e com os próprios assistidos. A análise destacou que somente 15% deles teve seu nível glicêmico controlado. Além disso, 75% das pessoas observadas na ocasião da pesquisa estavam com sobrepeso ou eram obesas. Das respostas sobre a assistência pelo governo 86,2% consideraram o fornecimento da insulina lento. Entre 7,7 e 12,7% dos pacientes obtinham fitas e o medicamento para testes de glicemia através de mandado judicial.

A Sociedade Brasileira de Diabetes estima que existam hoje 12.054.827 pessoas diabéticas no Brasil e o Censo de 2010 do IBGE apontou que no país, na população com 35 anos ou mais, 8,1% das pessoas tinham diabetes. As análises mostram a necessidade do Brasil de controlar a doença e combater as grandes iniquidades observadas entre os diferentes grupos sociais através políticas que atuem sobre os DSS e garantam o acesso e qualidade igualitária de serviços de saúde.

 

Referências Bibliográficas

 

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Por Jaqueline Pimentel e Alberto Pellegrini Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

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