O Twitter gera todos os dias 500 milhões de posts, o Facebook opera em cerca de 70 idiomas. A velocidade com a qual a informação é lançada para os indivíduos e a quantidade de conteúdo produzido dentro e fora da rede é algo avassalador. Os processos para a coleta de dados em geral, e sua transformação em informação, bem como o uso correto do conhecimento produzido, foram destaque no dia 6 de agosto, em palestra realizada no Centro de Estudos Miguel Murat, da ENSP, com o debate Abordagens complementares em gestão e avaliação do conhecimento nas inovações em saúde. O evento teve coordenação da vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP/Fiocruz, Sheila Mendonça de Souza.
Jorge Lima de Magalhães, do Núcleo de Inovação Tecnológica de Farmanguinhos/Fiocruz, e Zulmira Hartz, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa foram os palestrantes.
A todo momento os meios de comunicação, principalmente a internet, lançam na vida dos indivíduos uma enorme gama de dados que, processados, se tornam informação útil ou podem ser descartados. No âmbito da gestão a importância de filtrar estes dados, saber administrá-los e como gerir a informação que oferecem é fundamental. Isto também se aplica a pesquisa científica e ao conhecimento produzido por pesquisadores da área de Saúde, Ciência e Tecnologia. Estes foram pontos em destaque citados pelos palestrantes, que destacaram a importância de saber a quem remeter a informação correta, para o uso adequado e uma gestão competente, além de saber observar o que é feito com os dados úteis encontrados, em processos, projetos e ações, além das atividades nas quais se atua. “Gestão do conhecimento não é só mostrarmos o que estamos fazendo. É observar e aprender com o que os outros estão fazendo”, pontuou Zulmira Hartz. Para ela ciência é uma questão social, e é papel dos pesquisadores o comprometimento com a transmissão do conhecimento produzido para o estado, para que este gere políticas com base em resultados dos estudos realizados.
Jorge Magalhães discorreu sobre Big Data, um conceito novo sobre processamento de informações que pode se adequar a definição de uma grande quantidade de dados aos quais podemos ter acesso, a rapidez de sua análise, sua filtragem e disponibilização como conteúdo. “A grande questão que temos em voga é: como manter gerir e divulgar o conhecimento?”, disse ele expondo a necessidade da filtragem correta de dados na gestão e sua aplicação apropriada no planejamento e execução de ações. “A trilha para gerar conhecimento está em saber processar os dados obtidos nas pesquisas. Precisamos habilitar um filtro das informações para entregá-la para a pessoa competente tomar a decisão devida, no tempo necessário”, situou.
Os palestrantes estabeleceram uma relação entre a produção do conhecimento, a semântica de dados e o modo de funcionamento de profissionais e instituições que, segundo eles, diante de uma realidade de fluxo tão dinâmico de informação, devem se organizar em equipes com competências multidisciplinares que possibilitem aprender umas com as outras e aplicar os saberes produzidos. “A dificuldade de construir pontes é um problema. Temos vários paradigmas, mas sem pontes, não há saídas”, enfatizou Zulmira lembrando ser fundamental agrupar o conhecimento dos elementos das equipes buscando um objetivo através de uma pesquisa participativa. “É preciso desenvolver uma visão partilhada, aumentar o interesse dos parceiros, facilitar a participação nos processos de pesquisa”. Zulmira e Jorge destacaram que a integração e a cooperação das equipes em pesquisas, principalmente na era da multiplicação de dados, pode tornar a gestão mais minuciosa, baseada em um conhecimento produzido e promovido em equipe, em um grupo focal.
Sobre a avaliação na gestão, ainda neste cenário, Zulmira frisou que a produção do conhecimento e a gestão como sistemas integrados devem buscar um objetivo específico no âmbito da saúde. “É importante lembrar o que eu quero avaliar e saber o que vai me orientar. A avaliação tem que ter foco, precisa estar voltada para a equidade. Temos uma dívida social muito grande”.
Jorge Magalhães reforçou a necessidade de uma visão multidisciplinar na pesquisa. E expôs um questionamento crucial para se pensar a prática científica e a gestão do conteúdo, bem como sua aplicação: como considerar os modelos de gestão em tempos de Big Data? Na era do conhecimento? O que pode ser aproveitado? O que é, de fato, útil? “É importante saber fazer uma mineração de dados. O que está ocorrendo é uma revolução informacional. O que ferramentas como estas nos dizem?”, questionou. Ele citou também um grupo que usa o twitter para, através dos termos utilizados em posts, fazer uma coleta de dados sobre saúde. “São formas de utilizar a informação de maneira colaborativa”, disse ele, propondo que se use este tipo de rede para apurar informações em saúde. “Twitter, Facebook, a rede social 2.0: apesar de, ainda de um modo muito elementar, podem sim contribuir para a informação em saúde”. É a era da informação trazendo questionamentos, novas idéias e movimentando a maneira de pensar a produção científica e a gestão da saúde. “Quando cheguei ao IHMT em 2010, vi que não havia nada na área de Comunicação. Hoje temos. O triângulo Diálogo (indução), Avaliação e Comunicação é fundamental”, citou Zulmira, referindo-se a um modelo de gestão participativo e eficaz.
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