Uma breve análise da vigilância epidemiológica da Gestante HIV+ e Criança Exposta em Porto Alegre

Uma das grandes conquistas da saúde frente à epidemia da AIDS é a prevenção da transmissão vertical. Ações efetivas diminuem o risco da transmissão de 20% para índices menores que 1%. Porto Alegre, uma das capitais do Brasil com maior incidência de AIDS, apresenta, em média 400 gestantes HIV+ ano. A Equipe de Vigilância das Doenças Transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde é a responsável pela vigilância epidemiológica da Gestante HIV+ e Criança Exposta implantada desde setembro de 2001 no município.

Até o momento, há 4177 gestações acompanhadas pela vigilância epidemiológica. Estas resultaram em 3998 (95,7%) nascidos vivos expostos ao HIV, 83 (2%) natimortos e 75 (1,8%) casos de abortos, ficando 21(0,5%) casos sem ter sido identificado o desfecho da gestação. Dos 3998 nascidos vivos, 191 (4,8%) casos tiveram confirmada a transmissão vertical. Dos casos infectados pelo vírus HIV, 44 (23%) evoluíram para óbito. Contudo, ainda há uma grande dificuldade em se saber o resultado de muitas crianças expostas, havendo 1401 (35%) em aberto, por perda no acompanhamento dos casos.

Mas quais são as características destas mulheres e seu contexto social?

Em 2003 foi realizada uma análise espacial da cidade de Porto Alegre que identificou uma correlação positiva entre indicadores socioeconômicos, que poderiam, de forma geral, ser definidos como indicadores de “pobreza”, com alta natalidade e alta prevalência de gestantes HIV+ nas áreas de atuação dos serviços de saúde do município (Barcellos, 2009).

Nas 4117 gestações acompanhadas, tomando a escolaridade como variável relacionada à questão social, a correlação acima referida parece se manter. Na faixa etária de 20 a 34 anos, que corresponde a 3224 (75%) gestantes, 2482 (45%) possuem 4 à 7 anos de estudos enquanto 476 (15%) possuem nenhuma escolaridade ou até 3 anos de estudos, o que totaliza 2958 (60%) que não possuem o ensino fundamental completo. Na população geral do município, a taxa de escolaridade até 7 anos de estudo de mulheres com mais de 10 anos de idade é de 40% pelo censo de 2010.

Na variável cor da pele, na mesma faixa etária referida acima, 1823 (57%) são brancas e 1273 (40%) negras (pretas e pardas), ou seja, observa-se nesse grupo um percentual duas vezes maior de população de cor negra em relação ao que se observa na população total residente em Porto Alegre, pois de acordo com os resultados preliminares do universo do censo de 2010, na população desta cidade 285.301 (20%) de 1.409.351 habitantes são de cor negra (IBGE, 2011).

Identificar indicadores de vulnerabilidade social é uma responsabilidade da vigilância epidemiológica, cuja informação subsidia ações que visam diminuir as iniquidades. Ações essas que podem ser exemplificadas na definição de áreas prioritárias para iniciar a implantação do teste rápido para o HIV nos Serviços de Saúde da Atenção Primária do município, o que está ocorrendo neste ano de 2011, coordenado pela Área Técnica de DST/AIDS e Hepatites Virais de Porto Alegre, assim como, na divulgação de iniquidades raciais da cidade publicadas no Boletim Epidemiológico nº 44 – Edição Especial – População Negra no ano de 2010.

Referências Bibliográficas

Barcellos C, Acosta LM, Pedroso E, Bastos FI. Vigilância da Transmissão Vertical do HIV: Indicadores sócio-econômicos e de cobertura de atenção à saúde. Rev Saúde Pública. 2009;43(6):1006-13.

IBGE Cidades@. Resultados Preliminares do Universo do Censo Demográfico 2010. Porto Alegre (RS) [homepage na internet]. Brasília (DF); c2011 [atualizado em 16 set 2011; acesso em 16 set 2011]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=431490

 

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