Um estudo desenvolvido pela Equipe de Vigilância das Doenças Transmissíveis (EVDT) da Coordenadoria Geral de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, sobre a distribuição de casos de tuberculose pulmonar bacilífera de residentes no município entre os anos de 2000 e 2005, é uma das experiências vencedoras do Prêmio Pró Equidade em Saúde. A coordenação do estudo é de Lisiane Morélia Weide Acosta e tem co- autoria de Márcia Calixto e Sérgio Luiz Bassanesi.
Segundo dados do estudo, foi observada alta incidência da tuberculose (TB) em de Porto Alegre, com uma média de 100 casos/100000 habitantes de todas as formas clínicas da TB nos últimos anos e 55 casos/100.000 da forma pulmonar bacilífera. O consenso na comunidade científica sobre a importância das condições sociais de vida na incidência da tuberculose e a constatação do contraste entre a alta incidência da doença e o elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na cidade, de 0,865, fez os pesquisadores analisarem a distribuição espacial da taxa de incidência da TB pulmonar bacilífera por bairros em Porto Alegre, ajustada para idade e sexo, e a associação com indicadores socioeconômicos de suas populações.
Foram excluídos do estudo os casos de pessoas em situação de rua, institucionalizados e aqueles que não continham informação de endereço ou pertenciam a áreas não cadastradas. Com estas exclusões, o total de casos no período foi de 4.135, sendo 66% em homens. A idade média foi de 38 anos e as idades mínima e máxima foram 10 e 94 anos, respectivamente. Um percentual de 72% dos doentes obteve a cura e 10,5% evoluíram a óbito.
As taxas de incidência da TB bacilífera variaram de 11,69 casos/100.00 habitantes para os bairros com melhor situação socioeconômica a 92,95/100.000 para os em pior situação. Após diversas análises estatísticas os autores concluem que cerca de 77% da variabilidade da taxa de incidência da TB bacilífera pode ser explicada pelos indicadores de vulnerabilidade social. O risco relativo dos bairros com os piores indicadores socioeconômicos chega a oito vezes o dos bairros com os melhores indicadores. Desta forma, a taxa de incidência da tuberculose pulmonar bacilífera em Porto Alegre, se iguala a dos países africanos nos bairros mais vulneráveis e a de países europeus nos bairros em melhores condições socioeconômicas.
Os autores concluem que a incidência da tuberculose pulmonar bacilífera pode ser interpretada e utilizada como um indicador de vulnerabilidade social em Porto Alegre e que a identificação de áreas de risco deve servir como base para o planejamento de um Programa de Controle da Tuberculose voltado a combater iniqüidades causadas por determinantes sociais.
Agradecimento: Agradecemos a colaboração de Lisiane Morélia Weide Acosta.
Referência Bibliográfica
Acosta LMW. O mapa de Porto Alegre e a tuberculose: distribuição espacial e determinantes sociais [dissertação de mestrado na internet]. Porto Alegre: Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS; 2008 [acesso em 01 ago 2011]. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13416/000643505.pdf?sequence=1
Entrevista com:
Ótima esta pesquisa, mas não entendo porque a população de rua não entra, se é aí que está o foco maior.
Muito relevante a pesquisa, tendo em vista o alto índice de TB em Porto Alegre. Para investigações futuras acho pertinente contemplar a população de rua e as pessoas institucionalizadas, por apresentarem-se em situações de vulnerabilidade.