A obesidade é um problema de saúde de proporções epidêmicas que possui um impacto econômico significativo para a saúde pública. É uma condição fortemente associada à mortalidade prematura, ao aumento do risco para várias doenças, incluindo doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e câncer, além de contribuir para a variação na expectativa de vida entre diferentes grupos sociais. Por isso, a combinação* de um Índice de Massa Corporal (IMC) normal (entre 18,5 e 24,99 Kg/m2), níveis séricos de colesterol** e triglicerídeos*** dentro dos limites de normalidade e uma circunferência abdominal nos padrões ideais (até 102 cm para homens e até 88 cm para mulheres) são questões de grande relevância e preocupação na atualidade.
Em contraposição ao desejo de atingir níveis “ideais” desses marcadores, estamos cada vez menos ativos e ingerindo mais alimentos que nos forneçam altas doses de energia de forma prática e rápida, o que torna a meta de um corpo com peso saudável mais difícil de ser alcançada. Sobretudo, atingir e manter esse “status saudável” passa a ser uma condição que afeta a todos nós, individual e coletivamente, além de depender da nossa cultura, de quem convivemos e do meio ambiente em que estamos inseridos. Tendo consciência disso, e por apresentar taxas de obesidade superiores à média da Inglaterra, a cidade de Nottingham, estabeleceu e implementou diversas políticas e estratégias para que a sua população atinja um peso saudável. Algumas estratégias que já estavam em prática foram agrupadas a outras, compondo um único quadro de ações coordenadas, abrangentes e intersetoriais.
Seguindo a série de notícias apresentadas pelo nosso Observatório sobre políticas de saúde no Reino Unido, o programa ‘Healthy Weight Strategy for Nottingham City 2011-2020’ é apresentado como uma gama de ações em diferentes níveis para crianças, adultos e famílias. São ações de prevenção em nível populacional, tendo como alvo o ambiente; ações orientadas, como a melhoria da nutrição e atividade física; e outras especializadas,como cirurgias e orientações dietéticas individuais. O programa também deu ênfase às questões relacionadas ao peso intergeracional (em todas as gerações da família), ao melhor entendimento das causas que levam determinados grupos a terem maior risco de obesidade, e ao apoio eficaz e específico a crianças e adultos que queiram perder peso.
Dentre os cuidados universais propostos por Nottingham, está a criação de ambientes positivos que promovam um peso saudável, incluindo o aprimoramento do transporte, o desenvolvimento dos ambientes construídos, como parques e espaços abertos, e o maior acesso a alimentos saudáveis ??a preços baixos. O ‘Programa Criança Saudável’, as ‘Escolas Saudáveis’ e os programas de saúde específicos no local de trabalho, também fazem parte dessa seção do programa.
Sabendo que existe uma relação direta entre privação social e obesidade na infância, Nottingham avaliou a distribuição da obesidade por áreas da cidade, e encontrou que a maior proporção de crianças acima do peso saudável mora nas regiões mais carentes da cidade. Sendo assim, as intervenções comunitárias tiveram como objetivo apoiar os indivíduos e as comunidades com maior risco de obesidade, atuando precocemente e reduzindo as desigualdades relacionadas à obesidade. Dentre as metas estabelecidas pelo programa pode ser listado o estímulo para que os indivíduos se tornem mais ativos e comam de forma mais saudável, além da criação de ambientes propícios para a atividade física e a compra, consumo e cultivo de alimentos saudáveis. Foi determinado também que, sempre que possível, serão restritas as atitudes não saudáveis, como a proibição de restaurantes fast food, e daqueles que só vendem alimentos para ‘viagem’ em áreas de risco para obesidade. Além disso, melhorias nos espaços verdes, remodelações dos parques infantis, e a instalação de equipamentos de ginástica foram ações colocadas em prática nas áreas de risco.
Com relação ao transporte, foi proposto a melhoria da infraestrutura, principalmente relacionada à segurança das estradas, incluindo zonas de velocidade reduzida (30 Km/h), e o incentivo da locomoção a pé e de bicicleta. O programa UCycleNottingham, por exemplo, engloba passeios de bicicleta, manutenção, comercialização e aluguel de bicicletas para alunos e alguns funcionários do sistema nacional de saúde britânico (NHS). Além disso, são fornecidas informações, mapas e planejamento de viagens para quem deseja usar o transporte alternativo.
Com relação à prevenção, crianças sob o risco de obesidade foram identificadas e incluídas em ações englobando o incentivo às atividades físicas nas escolas e a políticas alimentares saudáveis (Health Schools). No ambiente de trabalho, foram estimuladas as caminhadas, além de treinamento de ciclismo e redução do custo para filiação em atividades de lazer e esportiva. Nas ações mais orientadas, podemos citar a campanha social de amamentação e o programa de desmame saudável. Além dessas, foram fomentadas atividades físicas para as famílias, bem como aulas de culinária saudável para o público em geral e específicas para pais e filhos com menos de 5 anos de idade. Nas ações mais especializadas, foram disponibilizados atendimentos médicos para a manutenção do peso infantil e de adultos, além de serviços médicos/cirúrgicos para pessoas muito obesas, como a cirurgia bariátrica.
Em outubro de 2012, Nottingham lançou o primeiro plano de ações, pontuando como cada ação deveria ser executada, detalhando quem atuaria e o grupo-alvo (conforme sugerido pelo documento principal, mas com enfoque mais prático). Em julho de 2013 foi feita uma atualização desse plano de ações, ou seja, há ações já implantadas e outras a serem implantadas mais adiante. Apesar de fazer parte da estratégia, não há um plano de avaliação detalhado no documento principal. Ademais, ainda não foi publicada nenhuma avaliação das ações já implementadas.
Sem dúvida, as metas locais do programa são ambiciosas, principalmente porque as estratégicas de Nottingham têm o potencial de influenciar as causas da obesidade através da criação de comunidades saudáveis ??e sustentáveis??, além de dar ênfase aos determinantes sociais da obesidade. Para isso, há de se transformar os bairros da cidade, de se certificar que todas as crianças estão prosperando, de combater a pobreza e privação, reduzir a violência, a insegurança, o abuso no consumo do álcool e o comportamento antissocial, além de gerar e colocar mais pessoas da cidade em bons empregos. Porém, mais importante do que a melhoria dos indicadores de peso saudável individuais é que as ações sugeridas podem trazer benefícios bem mais amplos, alcançando a população como um todo.
*A combinação de fatores é fundamental porque é possível duas pessoas apresentarem o mesmo IMC, com composições e distribuições corporais distintas e com diferentes riscos para a saúde.
**200 mg/dl (até 29 anos); 225mg/dl (dos 30 aos 39 anos); 245mg/dl (dos 40 aos 49 anos); 265mg/dl (acima de 50 anos).
***Menor que 150 mg/dL.
*Imagem: Fotolia (banco de imagens).
Referências Bibliográficas
Healthy weight strategy for Nottingham City 2011-2020. [acesso em 11 ago 2014]. Disponível em: http://open.nottinghamcity.gov.uk/comm/download3.asp?dltype=inline&filename=49070/Item7HealthyWeightStrategyAppx.pdf
Healthy weight strategy for Nottingham city 2011-2020: action plan (June 2013). [acesso em 11 ago 2014]. Disponível em: http://www.nottinghaminsight.org.uk/d/96786/Download/Health-and-Social-Care/Healthier-Communities/
Healthy weight strategy for Nottingham city 2011-2020: action plan (October 2012). [acesso em 11 ago 2014]. Disponível em: http://www.nottinghaminsight.org.uk/d/83629/Download/Health-and-Social-Care/Healthier-Communities/
Nottingham Insight. [acesso em 11 ago 2014]. Disponível em: http://www.nottinghaminsight.org.uk/f/63588/Library/Health-and-Social-Care/Healthier-Communities/
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