A experiência de Sheffield (Inglaterra) na redução das desigualdades sociais da saúde

Com uma população de 555.500 mil habitantes, Sheffield é a terceira maior cidade metropolitana da Inglaterra. É caracterizada pela diversidade sociocultural, com cerca de 20% de sua população de etnias negras ou minoritárias e uma significativa comunidade estudantil. Grande parte do seu reconhecimento econômico se originou da produção e manufatura do aço. E, apesar de ser uma cidade de base econômica industrial, os espaços verdes ocupam 61% da cidade, o que a torna a cidade com mais árvores por habitantes da Europa. Mas, então, o que melhorar? Por que mudar? Como fazer as mudanças necessárias para reduzir as iniquidades em saúde de seus moradores?

O que melhorar? Por que mudar?

Apesar de estar localizada na região central de um país desenvolvido, como a Inglaterra, nem tudo são flores em Sheffield. Em geral, a saúde de seus moradores está aquém da média nacional. Além disso, observa-se uma grande diversidade na qualidade de vida e níveis de saúde entre as áreas de Sheffield. A privação social é maior do que a média do país e a expectativa de vida é 10,9 anos menor para os homens e 7 anos menor para as mulheres nas áreas mais pobres da cidade em comparação com as mais prósperas.

A proporção de lesões automobilísticas com morte, crimes violentos e internações hospitalares por danos causados por automutilação e devido ao consumo de álcool é mais alta do que a média nacional, bem como as estimativas de alimentação saudável entre adultos e de tabagismo. A proporção de crianças ativas fisicamente é menor do que a média da Inglaterra e 18,6% das crianças de 6 anos são obesas. A prevalência de gravidez na adolescência e cárie dentária em crianças é também pior do que a estimativa nacional, além de haver um baixo rendimento no Certificado Geral de Educação Secundária (GCSE*).

Como fazer as mudanças necessárias para melhorar a qualidade de vida de seus moradores?

Apesar de ser considerada há mais de vinte anos como Cidade Saudável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Sheffield apresenta um panorama que exige mudanças para melhorar a cidade e o bem-estar daqueles que lá vivem. O progresso vem acontecendo ao longo desses anos, principalmente porque como ‘Cidade Saudável’ possui uma conexão intensa com outras cidades, que apresentam evidências fortes para desenvolver estratégias eficazes e factíveis. Esse contato estruturado prevê um mecanismo de partilha de experiências, dados e evidências, que incentiva a inovação e solução de problemas. Contudo, o Conselho Municipal de Sheffield reconhece que as desigualdades e deficiências em saúde só podem ser resolvidas através de um esforço coordenado e articulado entre os diferentes setores sociais, econômicos e ambientais. Destacando, assim, a necessidade de trabalhar com muitas agências parceiras

· aumentar as habilidades (empowerment) de envolvimento dos indivíduos com agências em todos os níveis, influenciando o planejamento e a prestação de serviços.

· Para criar empregos mais justos e de boa qualidade foram incentivadas ações visando à participação de grupos vulneráveis ??no mercado de trabalho através de ofertas inclusivas de aprendizagem e capacitação profissional para jovens e adultos. A reintegração de doentes, deficientes e desempregados, com particular ênfase na saúde mental foi estimulada. Além disso, os empregadores receberam apoio para sobreviver à recessão e foram auxiliados na contratação de pessoas com maior risco de problemas de saúde.

· Dentre as propostas para melhorar a saúde e o bem-estar nos espaços de trabalho está um programa de formação e capacitação para homens a fim de melhorar os desfechos em saúde, principalmente entre aqueles com maior risco de doenças cardiovasculares, como motoristas. Os funcionários também têm sido incentivados a andar mais, seja para ir e voltar do trabalho ou a passeio**.

· Com a finalidade de assegurar um nível de vida saudável para todos, destacou-se a necessidade de uma habitação acessível e de qualidade. Foi desenvolvido um sistema para tratar da subocupação de moradias, distribuindo melhor as pessoas que moram em residências superlotadas. Estimulou-se também a maior velocidade e precisão no processamento de subsídios de habitação. No caso da alimentação, foi garantido a todos os escolares de Sheffield acesso à comida saudável (em termos de nutrientes e calorias), possibilitando a manutenção de uma boa saúde enquanto estivessem frequentando a escola (health schools).

O que esperar?

Por muito tempo essas desigualdades fizeram e ainda fazem parte das vidas dos moradores de Sheffield. É inaceitável que algumas pessoas tenham menos oportunidades na vida, menos acesso a serviços e piores tratamentos de saúde do que os outros. No entanto, o processo de mudança é lento e a colheita de bons frutos só ocorre em longo prazo. Ainda não existem dados empíricos sobre o impacto das ações realizadas em Sheffield, mas as evidências científicas são fortes e positivas em outras cidades. Conforme diz o documento, esses planos de ação só serão implementados e terão sucesso se colocados ‘no coração’ da Governança e do Planejamento da cidade.

*é uma avaliação educacional realizada no ensino secundário que envolve algumas disciplinas específicas, que geralmente são escolhidas pelos próprios alunos, e é realizada por escolares entre 14 e 16 anos de idade.

**Apesar de não estar no documento, ‘Pedalar para o trabalho’ já é uma política praticada, por exemplo, pela Universidade de Sheffield, destinada a incentivar funcionários a irem diariamente de bicicleta para o trabalho, reduzindo assim a poluição do ar e melhorar a sua saúde. O sistema permite um incentivo fiscal aos funcionários que se beneficiam de um empréstimo em longo prazo de bicicletas e equipamentos livres de impostos.

Referências Bibliográficas

Fair Society Healthy Lives. London: UCL Institute of Health Equity; 2010. [acesso em 21 jan 2014]. Disponível em: http://www.instituteofhealthequity.org/projects/fair-society-healthy-lives-the-marmot-review

Health Inequalities Action Plan: 2010-2013. [acesso em 21 jan 2014]. Disponível em: http://www.instituteofhealthequity.org/projects/sheffield-health-inequalities-action-plan/sheffield-health-inequalities-action-plan.pdf

Healthy Schools. [acesso em 21 jan 2014]. Disponível em: http://www.education.gov.uk/schools/pupilsupport/pastoralcare/a0075278/healthy-schools

Wilkinson R, Pickett K. The Spirit Level- Why More Equal Societies Almost Always Do Better. London: Allen Lane; 2009.

 

 

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