Sustentabilidade, a palavra do momento em diversos setores da sociedade e do conhecimento, foi a tônica da palestra do pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Leandro Giatti, realizada na manhã desta quarta-feira (27), no último dia do Seminário Determinantes Sociais do Processo Saúde-Doença: condições desiguais de vida em espaços amazônicos, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA) do ILMD/Fiocruz Amazônia.
Com a palestra “Nexos Urbanos de Sustentabilidade e Saúde”, Giatti levantou a polêmica entre os participantes a respeito da exportação e importação de recursos naturais, como a água por exemplo, por meio dos alimentos produzidos no Brasil e vendidos no exterior.
Conforme seus estudos, a sustentabilidade tem que levar em consideração esse aspecto que, mesmo que de uma forma virtual, vem contribuindo com uma escassez de recursos hídricos sistemáticos em áreas de produção no país. Segundo Giatti, a palavra de ordem na produção mundial de alimentos é a agricultura intensiva, o que gera um consumo intensivo de energia e, por tabela de água. “Não existe isenções, não existe uma cidade rica de água, que esteja fora desse risco. A água vai acabar, os recursos estão se acabando”, acrescentou.
Seguindo essa lógica analítica, ressaltou o pesquisador, o Brasil exporta muita água e energia quando o assunto é exportação de alimentos. “Primeiro ponto a se pensar são as commodities ligadas ao agronegócio. Nós exportamos soja e exportamos água virtual, esse é o conceito. Quanta água foi preciso para produzir cada tonelada de soja? O clássico é da carne bovina, em torno de 15 mil litros (de água) por quilo de carne bovina em toda a cadeia produtiva. Então você precisa ter uma riqueza hídrica para ser um produtor, um exportador disso”, analisou Giatti.
Apesar de toda a importância para o equilíbrio da economia, o pesquisador afirma que essa “exportação de água” não tem sido considerada pelos grandes produtores e exportadores, haja vista o passivo ambiental que está se gerando por conta da excessiva demanda por recursos hídricos. “Então, tínhamos que ter um planejamento melhor para pensar, de maneira mais integrada, do que a gente chama de serviços ambientais, a água é um serviço ambiental. Ela tem que ter um feedback, tem que ter investimento para proteção e de onde sai esse dinheiro? Tem que sair da produção. A produção de soja tinha que gerar recursos para a recuperação e preservação de recursos naturais necessários para a produção da chuva”, afirmou.
Em sua avaliação, esse contexto acaba trazendo à tona um uso abusivo, exploratório e predatório dos recursos hídricos e, como numa moeda de troca, o país aceitasse, para exportar seus produtos, entregar um recurso que é finito. “Um dia, nós podemos não ter mais água para produzir o que nós produzimos, porque nós não pensamos nisso agora”, observou.
E, justamente para que o conceito de “sustentabilidade” seja realmente concretizado da melhor forma possível, a academia está desenvolvendo várias pesquisas sociais no sentido de integrar todas as áreas e não apenas o lado da economia. Conforme Giatti, em suas pesquisas, têm trabalhado com a sustentabilidade tendo como foco principal a saúde. Ele ressaltou que a saúde não é só um resultado da sustentabilidade, e sim uma condicionante. “Não dá para começar a pensar em sustentabilidade sem incluir a saúde humana e o bem-estar desde o início da análise da cadeia. Então, a gente tem feito esse esforço. E eu acho que é uma contribuição necessária, que deve gerar ponderações e políticas públicas”, afirmou.
Leandro Giatti ressaltou que suas pesquisas em torno da sustentabilidade dialogam com estes conceitos e, pensar sustentabilidade da cidade, remete a pensar a sustentabilidade do território, não tem como desacoplar. “O alimento que se consome em Manaus é produzido fora e, sendo produzido fora, consome água fora. Ou seja, se terceiriza o uso de água na produção de alimento, sendo que temos muita água aqui em Manaus. Isso é curioso, mas enfim, é porque não temos espaço, a gente não tem cadeia produtiva? O fato é esse, Manaus importa alimentos e com isso, importa recursos hídricos dos locais de origem”.
Contaminação de igarapés
Dando seguimento ao ciclo de palestras do Seminário Determinantes Sociais, o diretor do ILMD/Fiocruz Amazônia, Sérgio Luz, apresentou aos participantes uma pesquisa realizada em 2005 que teve como foco os igarapés de Manaus abordando os aspectos ambientais.
Segundo ele, o resultado – já publicado em revistas científicas – mostra o alto índice de infecção bacteriana e viral nas águas dos igarapés da cidade, principalmente nos igarapés da Bacia do Mindu que corta quase toda a capital amazonense. “Extremamente poluído e a fauna de insetos aquáticos que vivem nesses ambientes, é uma fauna característica de áreas que sofreram grande impacto ambiental e que vivem apenas em ambientes altamente contaminados”, explicou o pesquisador.
Além das palestras de Giatti e Sérgio Luz, o último dia do seminário contou ainda com as palestras “Forças Motrizes e Pressões Ambientais na Ocupação do Espaço”, do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Reinaldo Costa e “Condições de Vida e Saúde em Manaus”, do pesquisador do ILMD/Fiocruz Amazônia, Marcílio Medeiros.
Ao final do evento foi lançado o livro “Sustentabilidade, Ambiente e Saúde na Cidade de Manaus”, coletânea de textos e pesquisas em áreas afins organizada por Leandro Giatti em parceria com o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), Carlos Machado de Freitas.
*Foto da home: Ascom/ILMD
Fonte: Em palestra no ILMD/Fiocruz Amazônia, pesquisador da USP debate sobre ‘sustentabilidade’. Manaus: ILMD/Fiocruz Amazônia. [acesso em 28 abr 2016]. Disponível em: http://amazonia.fiocruz.br/saladeimprensa/destaque/1671-em-palestra-no-ilmd-fiocruz-amazonia-pesquisador-da-usp-debate-sobre-sustentabilidade
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