Geoprocessamento à serviço da saúde

Município de Itaboraí/ Imagem: Google
Pesquisador fala em geoprocessamento em saúde
Pesquisador fala em geoprocessamento em saúde

Em entrevista sobre o projeto da metodologia de monitoramento de situação de saúde em Itaboraí (entorno do Comperj) o pesquisador Anselmo Romão destaca a importância do uso do geoprocessamento na aferição da situação de saúde de uma região. “A possibilidade do uso conjugado dos sistemas de informações em saúde, e de base de dados georreferenciadas amplia a interface entre a epidemiologia e geoprocessamento, possibilitando cada vez mais a interação entre esses dois ramos do conhecimento”.  Ele cita ainda ainda o tipo de situação que esta pesquisa permite identificar, destacando a funcionalidade da mesma para a gestão de saúde local. “Na medida que um estudo indica determinadas áreas com maior Vulnerabilidade Social em relação a outras, instrumentaliza o poder público com uma ferramenta metodológica de gestão do território mais eficaz”.

Anselmo trabalhou na implantação do projeto do pesquisador Pedro Alves Filho que é focado no estudo da vulnerabilidade social e seus reflexos sobre a saúde da população dos municípios localizados no entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

1. Como o geoprocessamento pode ajudar no trabalho de monitoramento epidemiológico?

Considerando o fato de que determinados eventos relacionados à saúde da população possuem componentes socioambientais que se expressam territorialmente e são passíveis de serem localizados, esses eventos encontram no geoprocessamento um conjunto de ferramentas, técnicas e conceitos, capazes de estabelecer possíveis relações causais entre eles e um conjunto de variáveis acerca do espaço geográfico. A possibilidade do uso conjugado dos sistemas de informações em saúde, e de base de dados georreferenciadas amplia a interface entre a epidemiologia e geoprocessamento, possibilitando cada vez mais a interação entre esses dois ramos do conhecimento.

2. De que modo foi feito o trabalho em Itaboraí? Como foram processados os dados? 

Município de Itaboraí/ Imagem: Google
Município de Itaboraí/ Imagem: Google

Inicialmente utilizou-se  a base cartográfica dos setores censitários do censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, assim como a base de dados tabulares com as informações do censo referente as condições socioeconômicas e demográficas do município de Itaboraí, também foram utilizados os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) para casos de tuberculose para o período de 2007 a 2013, nesse contexto foram gerados um conjunto de mapas temáticos. Posteriormente iniciou-se o processo de geocodificação e localização de mil e sete casos de tuberculose com base nos endereços disponíveis nas notificações dos sistemas de informação em saúde SINAN e SIM e utilizando os sistemas de informações Vicon/Saga Web, Galileo e o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) do IBGE. A intenção era realizar a geocodificação de todos os casos de tuberculose notificados, mas em virtude da inconsistência das informações referentes aos endereços e limitações das ferramentas utilizadas, optou-se por utilizar o bairro como unidade de análise.  A partir do conjunto de mapas temáticos que foram gerados no Sistema de Informações Geográficas ArcGis e posteriormente convertidos para o Sistema SAGA/UFRJ, utilizou-se a ferramenta de assinatura ambiental onde foi possível realizar associações entre o conjunto de variáveis socioambientais e demográficas com às taxas acumuladas de tuberculose.

3. Quais tipos de problemas este estudo permite identificar?

Estudos dessa natureza conseguem identificar espacialmente as desigualdades sociais e os possíveis reflexos dessas desigualdades no processo de disseminação de determinados agravos à saúde. No que concerne a aplicação da técnica de assinatura ambiental, foi possível identificar entre as variáveis utilizadas no estudo, aquelas em que as taxas de incidência de tuberculose estabelece relações com as condições socioeconômicas e demográficas, por exemplo: áreas onde as taxas de incidência de tuberculose são menores, correspondem aquelas que apresentam os maiores percentuais de pessoas jovens responsáveis pelo domicílio, fato esse também observado nos bairros onde a renda domiciliar per capita e a renda média de mulheres responsáveis são maiores.

4. A regionalização das informações por áreas do município pode tornar o monitoramento mais eficaz?

Na medida que um estudo indica determinadas áreas com maior Vulnerabilidade Social em relação a outras, instrumentaliza o poder público com uma ferramenta metodológica de gestão do território mais eficaz.  No processo de construção de um modelo de análise do espaço geográfico que busque a identificação de determinados espaços segregados (considerando Vulnerabilidade Social como uma forma de segregação) ocorre paralelamente a identificação do conjunto de variáveis que mais se associa a um determinado agravo, potencializando a capacidade de identificar mudanças espaço-temporais e consequentemente o monitoramento de um evento.

Entrevista com:

2 Comentário

  1. Caro Anselmo, seu trabalho e sua dedicação trazem alentos poderosos a todos nós, ainda mais quando apresentam a chancela das instituições e fontes mencionadas.
    Jorge Xavier da Silva, Professor Emérito da UFRJ

  2. Tive a oportunidade de trabalhar com o Anselmo em algumas ocasiões. Grande companheiro e profissional. Um entusiasta do SAGA/UFRJ. Detém uma visão muito prática e aplicada dos problemas ambientais de nossa sociedade. Domina bem os métodos e sabe aplicá-los muito oportunamente para fins de pesquisa na área da saúde. Parabéns Anselmo.

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