Quando foi sua última visita ao dentista? Uma leitura dos dados da PNAD 2008

Imagem: www.blog.saude.gov.br

Indicador do Observatório sobre este tema: ind030302

O tempo desde a última consulta ao dentista, na população de 14 anos e mais* em determinado espaço geográfico, é um dos indicadores de atenção ambulatorial apontados pelo Observatório sobre Iniquidades em Saúde da Fiocruz. Por meio da pergunta: “quando foi sua última visita ao dentista?”, presente do Suplemento Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2008), foi possível traçar um panorama da utilização de serviço odontológico e das desigualdades regionais e de escolaridade em relação a esse indicador.

Sabe-se que o quadro de iniquidade em saúde se reproduz também nas condições de saúde bucal da população brasileira (Peres et al., 2012), e os problemas odontológicos, segundo os dados da PNAD/2008, compõem a terceira razão para a procura de serviços de saúde nas duas últimas semanas, precedido por consultas devido à doença e saúde em geral ou consultas preventivas (14,0%). Apesar de uma grande parcela da população (88,3%), de todos os extratos etários entrevistados na PNAD/2008, já ter buscado atendimento odontológico, somente 40,0% dos indivíduos teve acesso há menos de um ano da data da entrevista. Sendo que, mulheres (43,0%) procuraram mais o dentista do que homens (37,3%); os moradores de áreas urbanas (42,1%) mais que os das áreas rurais (30,5%), e as pessoas das classes de rendimento mais elevado visitaram mais o dentista do que as de baixo rendimento.

Das 44.839.128 pessoas com 14 anos e mais entrevistadas na PNAD/2008, 2,2% nunca foram ao dentista, aproximadamente 27% tiveram sua última consulta há 3 anos ou mais, 8,3% de 2 a menos de três anos, e 21% de 1 a menos de dois anos, e aproximadamente 41,5% dos indivíduos visitaram o dentista há menos de 1 ano. Esses dados, comparados aos da PNAD/2003, apresentam reduções principalmente em relação à proporção de indivíduos que nunca foram ao dentista, que diminuiu de 3,4% (2003) para 2,2% (2008).

Quanto às desigualdades regionais, a porcentagem de entrevistados de 14 anos e mais que visitou o dentista nos últimos 12 meses aumentou de maneira geral em relação a 2003 (de 38,8% em 2003 para 40,1% em 2008). Essa tendência de crescimento se repetiu em todas as grandes regiões brasileiras, exceto na região Norte, onde a porcentagem se manteve estável. Na região Nordeste este indicador passou de 31,8% para 35,6%, na região Sudeste de 41,1% para 41,5%, na região Sul de 45,7% para 47,0%, e na região Centro-Oeste de 40,8% para 41,4%. Quanto aos indivíduos que nunca foram ao dentista, as desigualdades regionais são bem demarcadas: dentre aqueles que nunca tinham ido ao dentista, somente 1,9% eram moradores da região Sul e 6,4% eram moradores da região Nordeste. Esse mesmo contraste ocorreu na PNAD 2003. Essas desigualdades regionais estão relacionadas a desigualdades socioeconômicas, que influenciam a maioria dos agravos bucais, indicadores de acesso e utilização de serviços odontológicos, tanto em nível ecológico e individual (Peres et al., 2012).

No que diz respeito à escolaridade, aqueles que foram ao dentista nos últimos 12 meses, 64,3% tinha 15 anos ou mais de escolaridade, contrastando com os 16,5% dos indivíduos sem instrução ou com menos de 1 ano de escolaridade. Mas a diferença não ficou somente nos extremos, a porcentagem de pessoas de 14 anos e mais que foi ao dentista nos últimos 12 meses apresentou um gradiente, onde quanto maior a escolaridade maior a probabilidade de visita ao dentista. Além disso, houve uma associação inversa entre escolaridade e a probabilidade de nunca ter ido ao dentista. Quanto menor a escolaridade maior a probabilidade de nunca feito tratamento odontológico.

Embora 11,7% dos entrevistados (de todas as faixas etárias) se mantivessem sem receber atendimento odontológico, a PNAD/2008 revelou uma melhora na utilização de atendimento odontológico pela população. O investimento crescente da Política Nacional de Saúde Bucal, com estratégias como a ampliação da atenção básica a partir da Estratégia Saúde da Família, aumento da fluoretação da água de abastecimento público, e acesso a tratamentos dentários especializados via Centros de Especialidades Odontológicas, podem ser, ao menos em parte, explicações para a redução das desigualdades no uso e no acesso a serviços odontológicos entre os diferentes grupos sociais (Peres et al. , 2012)

Os dados da PNAD/2008, no que diz respeito ao tempo desde a última consulta ao dentista, refletem uma perspectiva positiva em relação à saúde bucal, mas ainda existem desigualdades que revelam desvantagens de acesso e de utilização dos serviços odontológicos pelos mais pobres. Sendo assim, a adoção de políticas que visem à redução das desigualdades sociais deve ser subsidiada por investigações sistemáticas sobre o uso de serviços odontológicos, servindo como alerta para problemas persistentes (Peres et al., 2012). Além disso, deve haver um esforço contínuo na direção da redução de iniquidades em saúde, principalmente no que tange as diferenças relacionadas a desigualdades socioeconômicas, como renda e escolaridade.

* Foi adotado o ponto de corte ‘de 14 anos e mais’ no indicador de atenção ambulatorial pelo Observatório em Iniquidades em Saúde para diminuir o efeito da baixa escolaridade de crianças.

Referências Bibliográficas

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD). Um Panorama da Saúde no Brasil: acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde 2008. Rio de Janeiro; 2010 [acesso em 04 maio 2012]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/panorama_saude_brasil_2003_2008/PNAD_2008_saude.pdf

Peres KG, Peres MA, Boing AF, Bertoldi AD, Bastos JL, Barros AJD. Reducción de las desigualdades sociales en la utilización de servicios odontológicos en Brasil entre 1998 y 2008. Rev. Saúde Pública [periódico na internet]. 2012 Abr [acesso em 04 maio 2012]; 46(2): 250-258. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000200007&lng=en

Datasus. Informações de Saúde. Inquéritos e Pesquisas. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Suplemento Saúde – 2003. Brasília ( DF); 2012. [acesso em 08 maio 2012]. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0207&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dh.exe?pnad2003/pnad.def

 

 

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